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Quem sabe faz a hora

Certo dia, ouvimos um burburinho em relação a uma nova contratação. Surgiria, enfim, a tão necessária vaga para liderança. Nos bastidores, conseguíamos ler os lábios entre as frestas da persiana que se sobrepunha à vidraça da sala de reuniões

Edison Andrades
Publicado em 08/08/2014, às 11h32

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Ocimar, naquela manhã, acordou indisposto e demasiadamente de mal com a vida. Na noite anterior, havia discutido com sua amada e, dessa vez, a coisa foi longe demais. Devido a diversas discordâncias em relação a tantos assuntos, as discussões e agressões verbais tornaram-se triviais. Ocimar era, dentre nós, o melhor funcionário. Alguns de nós, colaboradores mais antigos, havíamos recebido promoção para supervisor e aguardávamos a grande hora de Ocimar. Sabíamos que seria apenas uma questão de tempo e oportunidade. Logo ele iria juntar-se a nós, como parte do corpo de supervisores.

Até então, nenhum de nós entendia com clareza o real motivo pelo qual todos ocupávamos um cargo superior, enquanto Ocimar ainda encontrava-se na mesma posição operacional. Mas ele mesmo sabia de suas qualidades e garantia, com a mesma presteza e competência, o desempenho de sua básica tarefa.

Certo dia, ouvimos um burburinho em relação a uma nova contratação. Surgiria, enfim, a tão necessária vaga para liderança. Nos bastidores, conseguíamos ler os lábios entre as frestas da persiana que se sobrepunha à vidraça da sala de reuniões. Líamos o nome de Ocimar nos lábios da gerente. De súbito, todos intimamente aplaudiam a meritocracia que se instalara naquele lugar. Além de grande companheiro e tutor de todos que ali trabalhavam, Ocimar tinha mérito para ocupar tal cargo.   

No almoço, o assunto era só esse. Todos torciam por ele. Rosália, nossa gerente, estava ansiosa para que o relógio marcasse 14h30. Esse era o horário de entrada de Ocimar. Por duas vezes, Rosália perguntou se Ocimar havia chegado. Tudo estava preparado para a grande nomeação.  Naquele lugar, tudo ocorria com muita rapidez. Se não fosse naquele dia, talvez nunca mais ocorresse. O relógio agora marca 14h20. Puxa! Bem que hoje ele poderia chegar um “pouquinho” mais cedo!

Nossa gerente segurou sua chefe para que não almoçasse até resolverem a promoção. São 14h28, hoje não poderia haver atraso! Muito mais do que a imagem de Ocimar, estava em jogo também a de Rosália, que passara a manhã inteira vendendo seu bravo colaborador para a cúpula daquela empresa. A diretora, chefe de Rosália, dirigiu-se ao toalete. Sempre fazia isso antes de sair para o almoço. Rosália, em pé, ao lado da entrada, aguardava, assim como todos nós, a chegada daquele que, em instantes, brindaria uma nova jornada profissional. Pediu então que ligássemos para Ocimar. Não havia celular naquela época. O telefone residencial apenas chamava.

Como triste final, a diretora foi almoçar e Rosália voltou para sua sala. Todos pareciam estar de luto. E o Ocimar? Apareceu dois dias depois sem a aliança de compromisso. Os dois dias de absenteísmo ocorreram devido a mais uma crise conjugal. Crise suficiente para interromper sua carreira profissional. Tempos depois do ocorrido, encontrei Ocimar em um evento. Ainda no mesmo cargo, mas agora em outra empresa. Parece que a oportunidade, nesse caso, não bateu duas vezes. E você? Está cuidando bem de suas relações?

Ah! E nunca se esqueça de incluir Deus em todos os seus planos.

Prof. Edison Andrades é escritor, palestrante e sócio da Reciclare Treinamento. www.facebook.com/professor.edison.andrades

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