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Somos complicados, e não é hora de simplificar

Artigo sobre marketing, mercado e trabalho

Kate Domingos
Publicado em 14/03/2016, às 11h04

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Há tempos, a complexidade acompanha o homem. Ela chega ao ponto de assolá-lo, ela o assombra. Tem sido uma preocupação humana, revelada e questionada diante de nós por nossos gênios desde o início. Quem não se recorda da memorável máxima de Manuel Bandeira, “Difícil é ser simples!”? Nesse ponto, torna-se inevitável duvidar: talvez o complexo nos defina, mais e além do que qualquer outra característica nossa.

Philip Kotler, considerado o pai da Administração e do Marketing contemporâneos possui uma teoria muito interessante que aborda tal complexidade. Ao analisar a natureza humana pela perspectiva mercadológica atual, procura, em seu título Marketing 3.0: As forças que estão definindo o Novo Marketing centrado no ser humano, sistematizar tal característica humana e nos revelar o que já sabíamos: sua existência. Analisando tal visão, percebemos que estamos realmente longe da simplicidade, pois somos compostos de mente, coração e espírito. A nomenclatura pode causar estranhamento, mas o autor fala aqui do pensamento, das emoções e das convicções humanas e de sua complexidade usual.

Nossa complexidade precisa ser entendida. É urgente que seja definida, qualificada, analisada, mas isso também pode se tornar ironicamente complexo. Vamos aos fatos: nossa mente é complexa, um fascinante mistério em termos de estrutura e funcionamento, tamanho que muitos perdem-se no interior desta que é a vedete da medicina do século. Nossas emoções são complexas, somos capazes de experimentar uma infinidade de sentimentos que coexistem, complementares e contraditórios. Nossas convicções são complexas, e a conectividade do mundo contemporâneo encarregou-se de coloca-las em evidência e discussão constantes. É chegada a hora de confrontarmos nossa real natureza!

A perspectiva mercadológica da obra de Kotler busca alertar as corporações para o fato de que não podem nos ver meramente como consumidores, pois em nossa complexidade, não nos contentamos mais com marcas e empresas que visam unicamente ao lucro, é preciso que dialoguem conosco racionalmente, que seduzam nossas emoções e sobretudo que se engajem na luta por nossas convicções, afinal as mazelas que assolam este mundo são muitas.

Porém não é só o mercado de consumo que teima em nos ver como meros compradores, o mercado de trabalho também ousa nos ver meramente como mão de obra – e nessas ocasiões nos sentimos de volta ao Fordismo, como uma das personagens de Chaplin no memorável filme Tempos Modernos –. A política também ainda ousa nos ver como meros eleitores e deve partir de nós o combate a essa visão minimalista. É hora de impormos nossa complexidade!

Sim, assumir algo que nos assusta, que nos assombra é (de novo ironicamente) complexo. É como assumir um fantasma, mas não podemos esquecer que até os fantasmas, quando vistos de perto, perdem a capacidade de amedrontar. Para nós é difícil ser simples porque a complexidade nos defini, precisamos acolhê-la, vê-la em toda sua riqueza. Mais do que nunca nosso poder está em compreendê-la, só assim poderemos exigir que o mercado e o mundo a atendam. A complexidade é nossa grande vantagem, ela é parte de nós e compreendê-la parte de nós. ­­­­

Kate Domingos é publicitária pela USP, docente e consultora em Marketing e Comunicação. Contato: kate@concrie.com

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