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Sua posição política pode não ser sua

Artigo sobre marketing, mercado e trabalho

Kate Domingos
Publicado em 04/04/2016, às 09h56

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Os brasileiros não são, em regra, politizados, mas pasmem, sobre a conjuntura política atual todos parecem ter opinião. A história nos mostra que os artifícios do Marketing e da Imprensa sempre foram usados para moldar a opinião pública quando o assunto é política, o que deve nos levar a questionar se, na verdade, não estamos apenas replicando o ponto de vista de poderosos setores deste embate político ao invés de emitir o nosso.

O jornalista americano Walter Lippmann nos ajuda a refletir sobre tal questão. Em seu famoso título “Opinião Pública”, traz um pequeno conto sobre um grupo de alemães, franceses e ingleses que habitava uma ilha remota em 1914. A única conexão destes com o mundo exterior eram os jornais trazidos a cada sessenta dias por um barco. Conta que o último jornal trouxera apenas polêmica sobre um escândalo policial envolvendo uma celebridade e um ministro francês, inquietos por saber o desfecho do frenesi, eles aguardavam ansiosamente a chegada do próximo jornal que, na verdade, trouxe-lhes uma surpresa muito menos estimulante, que mudaria sua visão de mundo e todas as suas ações a partir dali: a Alemanha entrara em guerra com Grã-Bretanha e França, ou seja, “por seis semanas, eles agiram como se fossem amigos, quando eram, na verdade, inimigos”.

O conto de Lippmann é emblemático para nos ajudar a compreender como a Imprensa e o Marketing, com seus discursos, podem mudar visceralmente nossas convicções e ações em relação ao mundo e às outras pessoas. É claro que o contato com estes discursos nos leva a amadurecer nossa visão de mundo, mas certamente pode também levar a distorções desta visão, caso os absorvamos de forma irrefletida. Não podemos nos esquecer de que as representações da política fabricadas pelas mídias estão, muitas vezes, longe da imparcialidade e, mais ainda, refletem as aspirações manipulatórias de um e de outro setor político. Atualmente, vemos um setor político dominante ressuscitando termos como “golpe”, “burguesia”, “nacionalismo”, “imperialismo”, a fim de justificar a legitimidade de seu plano de poder. Enquanto outro setor igualmente influente busca reviver palavras como “impeachment”, “populismo”, “paternalismo”, com o intuito de legitimar a ideia de falência e derrocada do atual governo. O desafio diante de nós apresentado é que não nos tornemos joguetes desse embate.

Há algum tempo, lembro-me da dúvida de uma aluna, ingressante no curso de Administração. Após uma aula que tratava da Revolução Industrial e das visões mecanicista e humanista do trabalho, ela me perguntou que serventia aquele conteúdo histórico teria para sua vida profissional. Ainda presenciei nela, por algum tempo, certo ceticismo, até fazê-la capaz de compreender que conhecer a história serve para nos despir de nossa ingenuidade e submissão, pois nos permite entender como funcionam os mecanismos e engrenagens da sociedade, da política, da economia. Conhecer a história passada torna a história futura menos imprevisível e pode até nos trazer uma sensação de déjàvu, que representa um norte para nossas decisões em momentos cruciais como este.

Independentemente de onde estão vilões e mártires (se é que eles existem ou existiram), precisamos perceber que a corrida destes dois lados é por nossa conversão e fidelidade, é pela adesão de cada cidadão, como sempre foi. Até porque as redes sociais e mídias digitais nos deram influência e voz, e uma voz amplificada, mais um motivo para não nos prestarmos ao ridículo de apenas reproduzir a opinião do outro ou emitir um ponto de vista vazio, sem argumentos sólidos e fatos que o sustentem. Sua opinião é valiosa e decisiva demais nesse momento para que você a dê a qualquer um sem a devida reflexão. Antes de decidir, que não esqueçamos de recorrer à história. Como sempre tem feito, ela nos norteará.  

Kate Domingos é publicitária pela USP, docente e consultora em Marketing e Comunicação. Contato: kate@concrie.com

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