Especialista esclarece mitos e verdades sobre burnout, síndrome que passou a ser considerada doença trabalhista pela OMS
Douglas Terenciano | douglas@jcconcursos.com.br
Publicado em 18/04/2022, às 10h39 - Atualizado às 10h51
A síndrome de Burnout, popularmente conhecida como síndrome do esgotamento profissional, foi reconhecida como doença ocupacional e passou a integrar a Classificação Internacional de Doenças, o CID. Anteriormente, a patologia era reconhecida apenas como doença psiquiátrica, mas com a mudança, ela passa a ser oficializada como “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”.
E com a recente inclusão da síndrome na lista de doenças ocupacionais da Organização Mundial da Saúde (OMS), se diagnosticados com o problema, os profissionais brasileiros podem ter acesso a uma série de benefícios pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). De acordo com a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo (UP), Janete Knapik, a doença “é um estresse laboral crônico integrado por atitudes e sentimentos negativos que trazem sofrimento psíquico, reduz muito a qualidade de vida e dificulta a mobilização de recursos internos em busca de um reequilíbrio físico e emocional”.
Uma dúvida frequente de muitas pessoas é se a síndrome de Burnout sempre se manifesta de uma vez só, em um surto emocional. Mas vale destacar que por ser uma síndrome, o burnout envolve um conjunto de sintomas que, combinados, são considerados uma doença. “Ele é o resultado de um processo de adoecimento que passa por quatro estágios. Primeiro, vem uma fase positiva do estresse que nos traz motivação; a segunda é o distresse, uma fase já negativa, em que não conseguimos dar conta de todas as pressões e demandas de trabalho; a terceira é a quase exaustão, período crítico, com muito sintomas físicos e emocionais; por fim, vem a exaustão, que é o burnout”, detalha.
Pensando em esclarecer sobre os mitos e verdades sobre Burnout, que agora passou a ser considerada doença trabalhista, Janete comenta sobre as principais dúvidas da síndrome. Confira!
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Um bom ambiente de trabalho, tempo de sono de qualidade, alimentação equilibrada e acompanhamento emocional são todos fatores que influenciam o desenvolvimento ou não da síndrome. Ela é uma doença totalmente passível de ser prevenida, mas a abordagem precisa ser multidisciplinar. Outro ponto importante é a necessidade de uma rede de apoio formada por amigos e familiares, além de um acompanhamento profissional com terapia.
Assim como acontece com muitas doenças da sociedade contemporânea, principalmente no tocante à saúde mental, a síndrome de Burnout não é uma exclusividade dos dias atuais. “Esse é um mito, porque o burnout é um estágio avançado de uma rotina prolongada de exposição a fatores estressantes no trabalho. Isso leva a um nível crítico de estresse, caracterizado por esgotamento emocional. Tudo isso sempre aconteceu”, afirma Janete.
Provavelmente houve, no passado, muitos trabalhadores que padeceram desses mesmos sintomas, sem, no entanto, receberem um diagnóstico oficial. O que diferencia os profissionais de hoje daqueles que tiveram Burnout no passado é, justamente, o avanço da Psicologia e o olhar mais cuidadoso que se desenvolveu sobre esse tipo de problema.
É fato que muitos profissionais com síndrome de Burnout experimentam, entre os sintomas da doença, a depressão. Entretanto, o burnout e a depressão não são iguais - e pode até mesmo haver pessoas com Burnout que não têm nada parecido com depressão. Como mencionado, é preciso mais de um sintoma para caracterizar a síndrome.
Entre as formas de ajudar quem sofre de Burnout está o uso de medicamentos. Alguns casos, de fato, não podem ser tratados sem intervenção médica e uso de fármacos. Mas é preciso mais que apenas isso para dar conta do problema. Como é uma doença de causa multifatorial, também o tratamento precisa observar esses múltiplos fatores.
É claro que quem está doente de tanto trabalhar precisa reduzir o número de horas dedicadas ao trabalho, mas essa carga horária é somente um dos pontos que precisam ser revistos. “O quadro é caracterizado por labilidade emocional, baixa autoestima, depressão, desconfiança e paranoia. É um quadro que exige acompanhamento psicológico e médico com adoção de tratamento medicamentoso”, destaca a professora.
Alguns dos outros pontos são o ambiente de trabalho, que deve ser saudável; a cultura da empresa, que deve incluir um cuidado emocional com os colaboradores; psicoterapia; mudanças na alimentação e no padrão de sono; atividade física; e busca por tempo ocioso de qualidade, seja para descansar, seja para atividades que dão prazer ao paciente.
Ninguém é imune ao Burnout, ainda que seja perfeitamente possível evitá-lo, tomando alguns cuidados.
Embora seja uma atitude muito comum de uns anos para cá, trocar de carreira ou de empresa pode não solucionar o problema do Burnout - apenas mudá-lo de lugar. O importante é entender todos os fatores que desencadeiam a síndrome e agir em cada um deles - e não em um ou dois, isoladamente. A dica da psicóloga é atuar dos mais fáceis e menos traumáticos aos mais difíceis.
Por exemplo, corrigir as horas de sono pode parecer bobeira, mas faz uma grande diferença no resultado final. "Rever a alimentação, reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e incluir alguns minutos de atividades físicas e de lazer ao seu dia pode evitar que tenha que mudar de emprego ou de carreira. Até porque nenhuma profissão ou empresa é 100% satisfatória", garante Janete. Ela acrescenta que cuidar das emoções e incluir na rotina atividades prazerosas são outras atitudes fundamentais. “Quando o ambiente de trabalho é realmente tóxico ou desrespeitoso, aí, sim, mudar de emprego pode ajudar”, finaliza.
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