"Lista Suja" revela que empregadores submeteram 3.773 trabalhadores a condições análogas à escravidão. O estado com maior número de novos casos é Minas Gerais
Pedro Miranda Publicado em 06/10/2023, às 15h07
O Ministério do Trabalho e Emprego divulgou nesta quinta-feira (5) a "Lista Suja" do trabalho escravo, que incluiu um número recorde de empregadores que submeteram trabalhadores a condições semelhantes à escravidão.
Esta lista, publicada a cada semestre desde 2003, teve a maior inclusão já registrada em sua história, com a adição de 204 novos empregadores, conforme o MTE. Um dos destaques dessa edição é a inclusão de uma famosa cervejaria, a Kaiser, ligada ao Grupo Heineken no Brasil.
Entre os novos empregadores incluídos na lista, a maioria está relacionada ao setor de produção de carvão vegetal (23), seguido pela criação bovina (22), serviços domésticos (19), cultivo de café (12) e extração e britamento de pedras (11). Os estados com o maior número de novos casos são Minas Gerais (37), São Paulo (32), Pará (17), Bahia (14), Piauí (14) e Maranhão (13).
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No entanto, essa contagem difere do número total de resgates realizados pela Inspeção do Trabalho no Brasil desde 1995, que ultrapassa 61 mil pessoas. Isso ocorre porque a inclusão na lista requer a exaustão dos recursos administrativos contra as infrações identificadas pelos fiscais.
A vice-presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Lydiane Machado e Silva, explicou a Agência Brasil que o aumento da pobreza nos últimos anos, especialmente devido à pandemia, juntamente com o apoio governamental à fiscalização contra o trabalho escravo, pode explicar o recorde no número de novos empregadores na lista.
Ela ressaltou que as condições precárias de trabalho nesses casos geralmente envolvem alojamentos precários, falta de banheiros e armazenamento inadequado de alimentos. Além disso, destacou o aumento no resgate de mulheres submetidas a essas condições no trabalho doméstico.
A inclusão de uma empresa de grande apelo social também chamou a atenção de Lydiane, que afirmou que as empresas precisam assumir a responsabilidade de verificar suas cadeias de produção. Para ela, a “Lista Suja” é importante para a sociedade brasileira saber o que está acontecendo em suas cadeias produtivas.
O Grupo Heineken, em nota, afirmou que foram surpreendidos pelo caso envolvendo uma de suas prestadoras de serviços, a Transportadora Sider, em 2021. A empresa informou que prestou apoio aos trabalhadores envolvidos e tomou medidas junto à transportadora, que não faz mais parte de seus fornecedores.
Além disso, o grupo afirmou que compreende a necessidade de avançar em sua agenda de controle de terceirização e cumprimento das regras do Código de Conduta. A reportagem aguarda posicionamento da Transportadora Sider sobre o caso.
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