Segundo reportagem especial da GloboNews e do RJ2 servidores envolvidos em suposta rachadinha na Câmara Municipal do RJ são ligados a três partidos
Jean Albuquerque Publicado em 23/08/2023, às 11h25
A suspeita de rachadinha na Câmara Municipal do RJ envolve três partidos políticos, segundo reportagem especial da GloboNews e do RJ2, que flagrou assessores de políticos do Rio de Janeiro que não souberam explicar o trabalho que desempenham no legislativo.
Segundo apuração da reportagem, os salários chegam até R$ 20 mil por mês e os servidores não assinam a folha de ponto e nem registram suas atividades no Poder Legislativo Municipal.
No âmbito de uma investigação de natureza criminal relacionada ao possível desvio de dinheiro público oriundos da Câmara, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) expressou dúvidas sobre o monitoramento da presença dos funcionários em cargos comissionados. No entanto, o empenho dos investigadores não intimidou os suspeitos.
Em um contexto em que a remuneração média do trabalhador mal ultrapassa os R$ 3 mil, é intrigante observar que certos servidores da Câmara Municipal do Rio de Janeiro não são encontrados em seus postos de trabalho durante o expediente ou desempenham atividades distintas das atribuições de seus cargos, mesmo com salários que chegam a ser até cinco vezes maiores que essa média.
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Entre os casos chamativos, encontra-se o da servidora Vivian Neiva Puell, que foi identificada afastada das instalações da câmara no horário de trabalho. Durante um período de um ano e meio, ela acumulou ganhos no montante de R$ 265 mil provenientes da Câmara.
Vivian deveria estar atuando como consultora no gabinete do Vereador Márcio Santos (PTB), porém, ao ser abordada pela equipe de reportagem, optou por ocultar o rosto. Foi localizada próximo de sua residência, na região da Freguesia, em Jacarepaguá, e evitou responder a questionamentos a respeito de suas atribuições laborais ou do horário de sua atuação.
De maneira notável, Vivian tem ligações como esposa do ex-secretário estadual de trabalho, Patrique Welber, que no ano anterior foi objeto de notoriedade em razão de suspeitas de ter empregado funcionários fictícios e familiares de sua esposa.
Este caso apenas enfatiza as complexidades presentes nas investigações sobre o uso indevido de recursos públicos e a necessidade de garantir a transparência e a prestação de contas no âmbito das instituições governamentais.
Simone Lyra, nomeada para a posição de assistente no gabinete do vereador Marcos Paulo (Psol) em novembro do ano passado, possui uma presença ativa nas redes sociais como profissional de estética canina.
Apesar disso, algumas de suas postagens não escondem seus vínculos com o político do Psol. Durante a tentativa de Marcos Paulo de conquistar uma vaga como deputado estadual, Simone compartilhou sua propaganda eleitoral e manteve trocas de mensagens com o então candidato, que, no entanto, não conseguiu se eleger.
O timing dos acontecimentos pode ser notado, uma vez que, logo após as eleições, a tosadora de cães encontrou um novo emprego. A partir de sua atuação no gabinete do vereador Marcos Paulo, Simone recebeu um salário mensal de R$ 5 mil, além de uma gratificação especial de quase R$ 8 mil.
No entanto, sua presença no ambiente da Câmara é escassa. O RJ2 documentou Simone Lyra em pleno exercício de sua atividade profissional de estética canina durante o horário de expediente, em junho deste ano.
No contexto da Comissão Permanente de Prevenção às Drogas, presidida pela vereadora Verônica Costa (PL) ao longo de seis meses, há a figura do assistente técnico legislativo Bechara Theme.
Conforme apurou a reportagem da GloboNews e do RJ2, consta no Portal da Transparência, ele atua em apoio a esse grupo. Entretanto, ao ser questionado sobre quem exerce a presidência da comissão em que atua, Bechara foi incapaz de oferecer uma resposta.
A Comissão Permanente de Prevenção às Drogas promoveu 49 reuniões desde março de 2021, contudo, o nome de Bechara não aparece em nenhuma das atas publicadas no site da Câmara.
Apesar de receber um salário de R$ 22 mil, Bechara é obrigado a cumprir uma carga horária semanal de 30 horas. No entanto, a reportagem flagrou o servidor percorrendo as ruas do bairro Andaraí, na Zona Norte do Rio de Janeiro, localizado a aproximadamente 10 quilômetros do Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara Municipal.
Além de seu trabalho na Câmara, o servidor mantém seu próprio empreendimento, uma corretora de seguros, cuja base de operações é seu apartamento, com funcionamento das 8h30 às 17h30.
Outro caso envolve um irmão de criação do governador Cláudio Castro (PL), o Caius Rocha, que dizia, em 2020, morar e trabalhar nos Emirados Árabes. Ela também tinha um cargo comissionado no Governo do Estado, durante a gestão do irmão como vice-governador.
Ele, há dois anos e meio, virou assessor no gabinete do vereador Doutor João Ricardo (PDC) com salário de R$ 14 mil por mês. A reportagem do RJ2 gravou o servidor dirigindo um táxi, buscando a filha na escola e frequentando uma loja de acessórios automotivos, atividades sem relação com o mandato do vereador.
Para a reportagem da GloboNews e do RJ2, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro emitiu um comunicado oficial no qual declara que a denúncia envolvendo Bechara Theme, um funcionário permanente da instituição, será alvo de investigação, podendo inclusive resultar na abertura de uma sindicância para apurar o caso.
Em relação aos demais assessores lotados nos gabinetes dos vereadores, a câmara enfatizou que suas atribuições não se limitam a atividades internas.
O vereador Márcio Santos (PTB), sob cuja jurisdição se encontra a lotação de Vivian Puell, esclareceu que ela desempenha suas tarefas em regime de home office, atendendo demandas provenientes das redes sociais e das lideranças que atuam na cidade.
Segundo ele, a alteração ocorreu devido a questões de saúde. Além disso, o vereador ressaltou que o trabalho dos assessores de gabinete não se restringe ao ambiente físico da câmara.
O vereador Doutor João Ricardo (PSC), ao qual está vinculado o assessor Caius Rocha, elucidou que o servidor ocupa a função de assessor político e executa atividades administrativas dentro da câmara. Ele trabalha em um sistema de escala, participando tanto de atividades internas quanto externas.
Já o vereador Doutor Marcos Paulo (Psol), para o qual Simone Lyra foi designada, comunicou que ela foi destituída de suas funções em primeiro de julho deste ano e que, durante seu período como assessora, desempenhou suas responsabilidades em eventos e tarefas tanto internas quanto externas.
A vereadora Verônica Costa (PL), que ocupa a presidência da Comissão de Prevenção às Drogas, onde Bechara Theme está alocado, afirmou que não participou de nenhum ato de nomeação ou exoneração. Ela alegou ter recebido a estrutura atual da comissão de seu predecessor na presidência.
O Governo do Estado do Rio de Janeiro não quis comentar o assunto.
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