Pouco conhecida, a profissão promete vasto campo de atuação e boa remuneração.
Redação Publicado em 11/11/2008, às 10h58
Pouco conhecida, a profissão promete vasto campo de atuação e boa remuneração. Além disso, a falta de profissionais capacitados faz com que o mercado aproveite os poucos que se formam e lhes ofereça boas chances de expansão
Talvez você nunca tenha escutado falar em Ciências Atuariais e nem mesmo imagine o que faz um atuário. Provavelmente, não conheça ninguém que tenha enveredado por essa profissão e, mesmo que conheça, é possível que não saiba mencionar as tarefas que ela engloba. Por isso, na hora de escolher uma carreira, optar por Ciências Atuariais está longe de ser considerado pela grande maioria dos vestibulandos, muito em razão da falta de informação que se tem a respeito.
O mercado também sente essa carência, claro. Há pouquíssimos atuários por aí, pouquíssimo conhecimento a respeito e, conseqüentemente, pouquíssima procura pelo curso de graduação na área. Isso faz com que, também, uma pequena quantidade de instituições se interesse em oferecê-lo. Em São Paulo, por exemplo, são apenas quatro atualmente: a Universidade de São Paulo (USP), a Pontifícia Universidade Católica (PUC), as Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e o Centro Universitário Capital (UniCapital). No Rio de Janeiro, é possível encontrá-lo nas universidades estadual e federal (UERJ e UFRJ) e na Faculdade Estácio de Sá. No resto do país, a baixa oferta (e procura) se repete.
A demanda do mercado, portanto, é maior do que a quantidade de profissionais com formação e experiência. “Hoje existem 840 atuários ativos com registro no IBA (Instituto Brasileiro de Atuária), sendo que 39% deles atuam em São Paulo e 32% no Rio de Janeiro”, diz o professor Dr. Luiz João Corrar, consultor da FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
Tal fato, logicamente, torna tal profissão interessante também do ponto de vista financeiro. Segundo Luiz Felipe Quel, diretor do departamento de Ciências Exatas da FMU, um profissional recém-formado ganha em média R$ 2.500. Esse valor, segundo outro professor e consultor da FIPECAFI, Dr. Luiz Jurandir Simões de Araújo, pode chegar a R$ 3.800. “Com cinco a sete anos de experiência, esse profissional já recebe o dobro disso, geralmente”, afirma Luiz Quel, complementado por Luiz Araújo: “Com sete anos de formado, pode-se ganhar entre R$ 9 mil e R$ 17 mil, dependendo do ramo”.
A profissão
Ciências Atuariais ou simplesmente Atuária está presente no nosso dia-a-dia, acredite. Se você tem um carro ou imóvel protegido por seguro, um seguro de vida ou contribui para previdência privada, por exemplo, já precisou dos serviços de um atuário. Não você diretamente, mas o banco ou a seguradora. É ele, portanto, quem faz os cálculos de acordo com os riscos e estabelece tarifas de seguro, quem leva em conta o índice de mortalidade e de acidentes em uma determinada localidade, a expectativa de vida, a inflação, as estatísticas do mercado, a legislação específica, informações demográficas e econômicas e outros dados de probabilidades para chegar a um valor adequado.
De acordo com Luiz Felipe Quel, há várias áreas de atuação, e todas promissoras. “Hoje há ainda mais possibilidades em seguradoras, já que houve o aumento de produtos segurados. Os bancos também precisam cada vez mais desse tipo de profissional, que faz análises relacionadas a crédito e previdência para que o seu risco seja o menor possível. Há espaço ainda em instituições governamentais, nos cálculos de previdência regular e privada. A área de previdência privada é, aliás, a mais promissora”, diz ele.
Há também espaço, por exemplo, em médias e grandes corporações que querem desenvolver monitoramento de risco, empresas de consultoria em atuária, gestores de recursos, resseguradoras, planos de saúde e em plantas industriais que precisem de monitoramentos específicos, tudo isso segundo Luiz Jurandir Araújo. “Como a maioria das empresas tem algum elemento de risco a ser calculado, o espectro é amplo”, reconhece o consultor.
O Instituto Brasileiro de Atuária (IBA), em pesquisa de setembro deste ano, definiu que as áreas de atuação dos atuários são:
Previdência Privada | 31,3% |
Seguros | 19,9% |
Previdência Aberta | 18,2% |
Saúde | 13,9% |
Vida | 9,5% |
Capitalização | 7,2% |
Total | 100% |
O curso e o estágio
O curso tem duração de quatro anos (oito semestres) e possui algumas semelhanças com o curso de Economia, mas com muitas peculiaridades. Conta com disciplinas básicas como Matemática, Estatística, Direito, Contabilidade e Economia, e específicas como Probabilidade, Teoria do Risco, Teoria Geral de Seguros e Previdência, Demografia, Mercado de Capitais, Econometria, Estatística Atuarial, Análise Multivariada de Dados e Técnicas de Amostragem e Tarifação, entre outras. Além disso, é composto também por noções de legislação (Direito Aplicado, Direito Social, Legislação de Seguros e Legislação de Previdência). No último ano, o estágio é obrigatório e supervisionado, devendo o aluno cumprir uma carga horária de 300 horas.
Estágio, aliás, pode ser conseguido logo no início do curso, segundo o diretor de Ciências Exatas da FMU. Ele conta que a instituição mantém um banco de vagas destinado aos alunos e é constantemente solicitada por empresas interessadas. E afirma: “A média de remuneração para 30 horas de estágio circula em torno de R$ 900”. O professor Luiz Jurandir Araújo, no entanto, declara que há estagiários do último ano que recebem bolsa-auxílio de R$ 1.200 a R$ 1.700.
Luiz Quel também aponta o perfil do aluno ideal: “Jovens que saibam lidar muito bem com variáveis, tenham interesse por estatística e matemática, possuam visão sistêmica, muita atenção, dedicação e raciocínio lógico, que é muito importante. Muitos, inclusive, deixam o curso por não conseguirem desenvolver raciocínio lógico”.
Vanessa Melo Decario, estudante do último semestre do curso oferecido pela FMU, é há dois anos estagiária do Unibanco Seguros & Previdência, na área de Previdência. “Atuo com o envio de informações para os órgãos fiscalizadores, como, por exemplo, a Susep (Superintendência de Seguros Privados), com o cálculo das reservas técnicas e dos benefícios, com a aprovação de novos produtos, entre outras atividades”, esclarece Vanessa.
A estudante conta que, antes de terminar o ensino médio, consultou um guia destinado aos vestibulandos e leu a respeito do curso de Ciências Atuariais, que até então era um mero desconhecido. Acabou se identificando ao notar que teria aulas de Economia e Estatística e viu com interesse o campo de trabalho. Prestes a se formar, Vanessa deseja se preparar para a prova do Exame de Admissão do IBA, necessário para a obtenção do registro profissional (MIBA).
“Futuramente, pretendo estudar um pouco o atual mercado, já que a profissão vem crescendo gradativamente, e aí decidir qual será o melhor caminho a seguir. Penso primeiramente em cursar uma especialização e, posteriormente, um mestrado”, completa.
Lygia Roncel