USP irá oferecer este curso já a partir do Vestibular 2009.
Redação Publicado em 18/04/2008, às 14h08
JC&E – O que motivou a criação desse novo curso na USP?
Prof. Dr. Celso Eduardo Lins de Oliveira (FZEA/USP) – A Engenharia de Biossistemas é uma nova área do conhecimento que surgiu em razão da evolução tecnológica dos processos de produção agropecuária. Na atualidade, a especialização no sistema produtivo do agronegócio está determinada não somente pelo potencial natural de uma determinada região, mas, em grande medida, pela agregação de tecnologia na produção.
Termos como agricultura de precisão ou zootecnia de precisão eram ficções científicas até o final do século passado e já são realidade no setor produtivo agrícola brasileiro. Assim o atendimento desta evolução dos setores ligados ao agronegócio brasileiro motivou a criação deste curso.
JC&E – O que faz o profissional dessa área?
Prof. Celso – O perfil profissional do Engenheiro de Biossistemas encontra forte campo de aplicação em nosso país, pois a maior parte da tecnologia nos processos para agricultura e zootecnia de base tecnológica ainda é importada, apesar da posição brasileira como grande produtor e exportador de alimentos.
Esse profissional atuará no agronegócio, ligado à engenharia de infra-estrutura; a sistemas de drenagem e irrigação; sistemas e métodos de conversão e conservação de energia e impacto energético; fontes tradicionais, alternativas e renováveis de energia; instalações diversas para a agroindústria; tecnologia; acondicionamento, armazenamento, pós-colheita e preservação de produtos; agricultura de precisão; pesquisa operacional e otimização de sistemas agropecuários etc.
JC&E – Onde o profissional formado nessa área poderá atuar?
Prof. Celso – O Engenheiro de Biossistemas poderá trabalhar em empresas ligadas a projetos e instalação de sistemas agropecuários, consultorias, empresas de produção agropecuária.
Porém, no perfil pretendido e inovador do nosso projeto, existe uma ênfase ao empreendedorismo, pois se acredita que uma dinâmica de formação empreendedora qualifica o profissional para o mundo do trabalho, despertando qualidades pessoais que são requisitos para a aceitação no universo amplo de perspectivas profissionais explicitado acima.
JC&E – Qual é o perfil necessário para quem se tornar Engenheiro de Biossistemas?
Prof. Celso – A Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP pretende formar um profissional com forte base em matemática, física, biologia e química e nos fundamentos das engenharias.
Sua formação abordará temas aplicados à produção animal e vegetal, relacionados às tecnologias de automação, da informação e de apoio à produção. Portanto, o candidato deverá se interessar por engenharia, informática, eletrônica e, ao mesmo tempo, pela vida no campo, ter interesse por animais e plantas. Acima de tudo, precisa ser curioso, deve querer saber como as coisas funcionam e ser um admirador da natureza.
JC&E – Fale sobre o curso.
Prof. Celso – O curso será ministrado em período integral (manhã e tarde), com duração de cinco anos, divididos em 10 semestres.
As disciplinas foram distribuídas em quatro núcleos: Conteúdos Básicos, Profissionalizantes Essenciais, Profissionalizantes Específicos e Estágio Supervisionado e Trabalho de Conclusão de Curso.
No núcleo de conteúdo básico haverá disciplinas ligadas as ciências básicas como física, química, matemática e biologia. Já os conteúdos profissionalizantes essenciais abordam temas como a formação humana profissionalizante, informática, controle e automação, biocombustíveis e energia, eletrônica, materiais e máquinas e equipamentos.
As disciplinas relacionadas a conteúdos profissionalizantes específicos estão divididas em obrigatórias e optativas eletivas (nos demais núcleos todas são obrigatórias). São matérias ligadas à ambiência, energia, engenharia de infra-estrutura, e aplicações a engenharia de biossistemas: disciplinas de analise de imagens para fins agropecuários, instrumentação aplicada à engenharia de biossistemas e controle de qualidade em processos agropecuários.
Para que o aluno possa ter uma formação acadêmica completa, que englobe as atividades de ensino, pesquisa e extensão, estão previstos horários livres para o desenvolvimento de atividades complementares. Este curso é pioneiro no Brasil. Apenas instituições dos EUA, Canadá e de países europeus ministram cursos como este em nível de graduação.
JC&E – E quanto ao mercado de trabalho para profissionais desse segmento?
Prof. Celso – Por se tratar de uma profissão nova, acredito que durante algum tempo não vão existir anúncios nos jornais para a contratação [de Engenheiros de Biossistemas], porém isso não significa que não exista demanda por esse profissional. Apenas não se adotou a nomenclatura, ainda.
A posição do Brasil como líder mundial na produção de vários tipos de produtos agropecuários, que chega a responder por mais de 40% do PIB, não foi conseguida no cabo da enxada, mas em um sistema de produção fortemente tecnificado. Assim, acredito que exista um mercado grande para esse profissional, não só em empresas, mas para a criação de novas empresas de tecnologia nacional associadas a este setor.
JC&E – Quais as áreas de atuação mais promissoras nesse setor?
Prof. Celso – No meu ponto de vista, estamos passando por um momento em que as barreiras não comerciais – associadas, por exemplo, à capacidade de rastreabilidade dos rebanhos (vide recente embargo à exportação de carne para a Europa) – são o principal entrave à produção agrícola brasileira.
Assim, haverá bastante demanda por profissionais com atuação voltada a Sistemas de Monitoramento e Certificação, que exigem um alto grau de tecnologia para precisão dos resultados.
A demanda por energia de fontes renováveis e em particular a energia da biomassa, tem um forte apelo hoje nos discursos de vários lideres mundiais, até pela necessidade de se inserir energia limpa na matriz energética mundial. Com isso, este será outro campo de forte demanda de mão-de-obra qualificada.
JC&E – Sendo uma carreira nova, qual o caminho indicado para quem quer iniciar na profissão?
Prof. Celso – Os alunos do novo curso da USP poderão iniciar suas carreiras por meio de realização de estágios. Pretendemos oferecer estágios dentro e fora da faculdade, em empresas parceiras. Este será o caminho natural para o primeiro emprego.
JC&E – Quais as maiores dificuldades para os futuros Engenheiros de Biossistemas que irão ingressar no mercado de trabalho?
Prof. Celso – A principal dificuldade se confunde com a principal vantagem: o pioneirismo da profissão. A entrada de um novo agente no setor produtivo pode ser encarada como uma ameaça a profissionais já estabelecidos, porém o entendimento da dinâmica do que ocorre hoje no meio produtivo brasileiro garante existir para estes pioneiros a certeza de que estarão incorporando ao mundo do trabalho uma visão diferenciada dos perfis profissionais ora formados no Brasil.
JC&E – Qual a remuneração média para Engenheiros de Biossistemas?
Prof. Celso – Acredito que este Engenheiro terá salário equivalente ao do Engenheiro Júnior de qualquer outro setor de cunho tecnológico: na casa dos dois mil reais, podendo chegar a até R$ 6 mil, que é a remuneração média de um Engenheiro Sênior.
Rogerio Jovaneli/SP