No artigo dessa semana, Gabriel Granjeiro destaca sobre as consequências negativas da autossabotagem e mostra como se livras delas
Todos recebemos do universo a máquina mais poderosa que há, porém ela vem sem manual de instruções. O usuário acaba sendo obrigado a redigi-lo ele mesmo, na base do ensaio e erro, dia após dia, em uma jornada de perpétuo movimento em que vai se aprofundando no entendimento sobre o maior presente que poderia ganhar: sua própria complexidade.
É uma pena, mas para muitos de nós tal aprendizado acaba nunca saindo do nível mais raso. Para esses, a complexidade é inimiga em vez de aliada. A experiência humana criada a partir de dentro – afinal, só pode ser assim – torna-se fonte de confusão interior, de ansiedade nociva que afeta alguns mais do que a outros. O indivíduo passa a ser o maior inimigo dele mesmo.
Parece contraintuitivo, mas isso é mais comum do que se imagina. Quem vê de fora pode até ter a impressão de que, em geral, damos o melhor para realizar os nossos sonhos, mas a verdade é que nem sempre seguimos o caminho que faz sentido, nem sempre fazemos as coisas acontecerem. Às vezes somos nós os criadores de obstáculos.
A pergunta, então, é: como reverter isso e interromper ciclos de autossabotagem?
LEIA TAMBÉM
Primeiro, caro leitor, querida leitora, é preciso compreender que o agir contra si mesmo tem raízes nas inseguranças de cada um. Há quem não se dedique o máximo que poderia e até tem consciência disso, tanto que costuma justificar antecipadamente o não atingimento de resultados. “Ah, se eu tivesse estudado, teria ido bem na prova...”, “ah, se eu tivesse assistido a todas as aulas, estaria nas vagas do concurso...”, “ah, se a situação fosse xis... ou ípsilon...”.
Aqueles que boicotam a si mesmos dessa forma o fazem numa espécie de tentativa de autoproteção. Apontam uma ou várias razões para o insucesso e, assim, criam a falsa impressão de que o problema não é a pessoa em si, mas qualquer fator alheio a sua vontade.
Esse tipo de autoengano é uma baita armadilha, fruto ou da arrogância, ou da imaturidade, ou da incapacidade de lidar com as próprias imperfeições. O indivíduo tem tanto medo de se frustrar que se antecipa, inventando mecanismos para que seus planos não funcionem antes mesmo de terem uma chance real.
Segundo o filósofo André-Comte Sponville, “ser humilde é amar a verdade mais que a si mesmo”. E a verdade até pode ser que você ainda não está preparado para atingir certo objetivo, mesmo que se esforce pra valer. Ignorar esse fato seria viver uma fantasia, como vivem aqueles que dizem terem “perdido o interesse” em algo tão logo esse algo pareça um pouco mais complicado de conquistar. É medo e dificuldade de lidar com a tristeza que acompanha insucessos.
E, então, vem o autoboicote, uma tragédia especialmente porque tem o potencial de tornar inimigo aquele que deveria ser nosso principal ponto de apoio: nós mesmos. Ele converte o cérebro, dotado de infinito potencial, em nosso maior sabotador. A boa notícia é que esse tipo de comportamento tem cura, tem solução. Não é um problema profundo de essência, apesar de, na minha opinião, ser indício de falta de humildade.
O autossabotador não acredita que seja ele quem está mais atrapalhando a si mesmo. Não compreende que a liberdade tem um preço, ou simplesmente não quer pagá-lo. Pessoas assim não gostam de encarar o teste da resiliência, naturalmente desgastante. Não aprenderam com o manual da vida por medo de viver de verdade.
Não seja assim. Aprenda que errar faz parte. Aprenda a se perdoar. Não se esqueça: só acerta quem erra muito antes.
O autossabotador precisa trabalhar a questão da falta de maturidade. Qual é a lógica de se recusar a crescer? Talvez a vã tentativa de fugir às frustrações e dores típicas do mundo adulto? O que as torna tão difíceis de aceitar? Faça a si mesmo essas perguntas e procure as respostas em sua jornada individual.
O autossabotador precisa, enfim, aceitar que o aperfeiçoamento é fruto do tentar. Erros e falhas podem, sim, acontecer, mas, ao fim e ao cabo, quem acolhe ou rejeita as vozes de reprovação somos nós mesmos. Em outras palavras, o mais importante é saber escolher a quem ouvir e a quem ignorar.
É surpreendente como há pessoas que, por exemplo, em vez de escutar as palavras de incentivo dos pais ou do companheiro, preferem dar atenção a um concorrente que acabaram de conhecer ou a um influencer que nunca encontraram pessoalmente...
Reflita um pouco: talvez sejam essas vozes dissonantes do seu propósito que estão lhe impondo tanto medo e fazendo você cometer o engano de querer fugir da realidade. Blinde-se contra elas. Faça ouvido de mercador.
Para superar um ciclo de autossabotagem, o indivíduo precisa se preocupar mais com o caminho do que com a chegada. Também deve avaliar com lucidez o que tem a perder ao, agindo contra si próprio, seguir nesse caminho de pseudoautopreservação, de falsa busca pelo perfeccionismo impossível de alcançar. Afinal, quem sabe que permanecer onde está é a pior opção tende a se sabotar menos.
Para concluir, busque viver a vida que merece ser vivida. Se em algum momento você sentir que está aquém dela, talvez seja porque está se autossabotando. Acredite: nada está perdido. Com o tempo e a busca diária por evolução, é possível superar essa fase.
E então? Vamos, juntos, transformar a máquina mais complexa do mundo, nós mesmos, em nossos maiores aliados?
*texto de Gabriel Granjeiro, diretor-presidente do Gran Cursos Online
Siga o JC Concursos no Google NewsMais de 5 mil cidades no Brasil!
+ Mais Lidas
JC Concursos - Jornal dos Concursos. Imparcial, independente, completo.