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Mulher teimosa por definição

Ouvir que alguém nasceu de novo é algo relativamente comum de acontecer. Raro é quem 18 anos depois desse renascimento ainda acredite nele.

Redação
Publicado em 08/07/2010, às 16h33

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Ouvir que alguém nasceu de novo é algo relativamente comum de acontecer. Raro é quem 18 anos depois desse renascimento ainda acredite nele. Para Eusa Aparecida da Silveira, 50 anos, pequena produtora de leite, seu renascimento foi marcado pelo fim do casamento. Com dois filhos de seis e oito anos, ao separar-se do marido, ela voltou a morar com o pai. O acolhimento paterno trouxe além do afeto, um trabalho. De dona de casa profissional, naquele momento ela começou sua carreira de produtora de leite.

Enquanto a noite ainda nem sonhava em partir, lá pelas duas, três da matina, Eusa levantava para ordenhar as vacas. Os filhos pequenos ajudavam. A família inteira enfrentava o trabalho sob noites amenas, de frio ou de chuva. O leite era posto na charrete e levado por um conhecido ao laticínio.

O trabalho árduo e simples gerou os recursos para que Eusa sustentasse a família. Os anos passaram e a renda obtida com o leite permitiu que o filho mais velho cursasse o ensino médio técnico em uma escola agrícola e depois fosse morar nos Estados Unidos. O mais novo ficou com a mãe e depois seguiu o mesmo roteiro.

Mas se o leitor me permite considerar, essa história tem um novo começo bem agora. Certo dia, Eusa foi convidada para uma reunião na casa de agricultura de Aspásia, cidade localizada no interior do estado de São Paulo, para falar sobre leite. Nenhuma outra informação foi-lhe passada.

Foi lá que ela descobriu que os produtores pretendiam formar uma organização. E de quebra ainda foi eleita a presidenta, por colegas homens, que na fala bem humorada de Eusa, não queriam assumir o compromisso: “Eu era uma pessoa que cuidava dos filhos, tirava o leite, punha no copo, era o que sabia fazer. Todo mundo jogou a bola para mim, mas eu não sabia nem o que era. No dia seguinte, na cidade, os homens falavam que não ia dar certo porque uma mulher era a presidente. Resolvi provar para eles que eu podia fazer”.  Com esse objetivo em mente, pediu ajuda a um amigo agrônomo para saber como conseguir toda a papelada para a criar a Associação de Produtores de Leite de Aspásia (Apla).

Pouco tempo depois, um representante do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) a procurou para falar sobre a qualidade do leite produzido na região. “Ali visualizei um futuro para o nosso leite. Sem a qualidade não tínhamos como brigar pelo preço”, analisou Eusa. A presidenta teve que iniciar uma peregrinação de produtor em produtor junto com o representante do Sebrae para convencê-los a participar de uma reunião sobre o tema na associação.

Apenas dez produtores compareceram à reunião. As mudanças propostas pelo especialista para que eles alcançassem uma bebida de melhor qualidade eram simples e exigiam baixo investimento financeiro. “No final aqueles dez, viraram oito, mas hoje somos um grupo unido. O apoio que eles me deram e onde nós chegamos é impressionante”, conta Eusa se referindo aos altos índices de pureza obtidos pelo leite da região segundo análise de institutos independentes. “Um dos nossos produtores era o que tinha menos bactéria no leite no Estado. Temos um dos melhores leites do país. E isso graças a uma mulher teimosa”, continua bem-humorada.

Esses resultados levaram Eusa ao 1º lugar na etapa estadual do prêmio Mulheres de Negócios 2009 e a conquistar a 3ª posição na etapa nacional do concurso.  Para se manter no topo e continuar subindo, a presidenta da associação faz uma autocrítica: “O laticínio não tem interesse que o leite de qualidade comece (a ser produzido em larga escala). Por isso, agora a gente luta por uma miniusina para, além de produzir, empacotar e vender o leite aqui na região mesmo. Com todas as análises necessárias podemos caminhar”, revelou. A associação já encomendou um estudo de viabilidade do projeto e constatou que são necessários cerca de R$ 200 mil. Animada, Eusa calcula que ela e os outros produtores consigam atingir esse valor no próximo ano ou no seguinte. “Quem sabe, daqui a um ou dois anos, não consigo me destacar no ‘Mulheres de Negócios’ de novo?”, avalia.

Aline Viana/SP

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