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É como em um filme de guerra!

Noites mal dormidas, ansiedade à flor da pele, olhares ressabiados, desconfiança e descrédito generalizados...

Redação
Publicado em 31/12/2009, às 10h11

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Noites mal dormidas, ansiedade à flor da pele, olhares ressabiados, desconfiança e descrédito generalizados, rotinas desgastantes, frequentemente o tombo perante a imunidade baixa, a busca por notícias de forma ensandecida, a expectativa por pronunciamentos oficiais, a alegria da vitória e o resignar de mais uma batalha perdida. Não. Não se trata de um filme de guerra, nem mesmo de uma guerra, no sentido etimológico que costumamos atribuir a ela.

Trata-se da rotina de um concurseiro. É o caso de Charles Dias, mineiro de São Lourenço, 38 anos, economista formado pela Universidade de São Paulo (USP) e concurseiro disciplinado por vocação. Vocação? Sim, porque para ele, ingressar na carreira pública significa valorização profissional, estabilidade financeira, rotina pragmática e muito estudo e disposição antes de alcançar esse elixir que tantos outros brasileiros perseguem.

Sentar em uma biblioteca, passar horas na frente do computador resolvendo questões de provas antigas ou devorar apostilas podem ser métodos eficientes de se estudar para um concurso, mas para Charles, eles em si não fazem de um concurseiro um bom concurseiro. 

“Tive de sair de São Paulo, onde tinha muita farra e era difícil realizar uma preparação adequada, resolvi me isolar”. Pode parecer radicalização, mas depois de dois anos morando com os pais em uma cidade do sul de Minas Gerais, Charles não só não se arrepende como defende sua estratégia ardorosamente em artigos diários em seu blog e para pessoas que o procuram em busca de conselhos. “Como não era uma coisa comum, muita gente pensou: esse cara é louco ou está se escondendo de alguma coisa. Com o tempo as pessoas passaram a reconhecer e valorizar a minha atitude”.

A grande referência de Charles, e quem lhe chamou à luz dos concursos públicos, foi o amigo Anderson, formado em engenharia, que desencantado com a iniciativa privada, assim como Charles se encontrava, resolveu prestar concurso público. Após dois anos de intensa preparação, passou no concurso da Receita Federal. A conversa travada entre Anderson e Charles no fim de 2006 não resultou apenas em uma valiosa dica de carreira, foi uma epifania das mais cristalinas para o homem que mais adiante criaria um blog a pretexto de fazer “terapia diária” e alcançaria notoriedade com suas dicas, conselhos, ponderações e desabafos.

“A internet facilita muito na hora de se preparar para um concurso, mas não conseguia achar respostas para algumas de minhas dúvidas em relação a estratégias de estudo e formas de se preparar adequadamente para um concurso. Resolvi compartilhar minhas experiências no blog, mas não esperava que crescesse tanto. Hoje tenho mais dois colaboradores e um ‘banco de assuntos’ para abordar nos artigos”.

A “terapia diária” ajudou Charles a elaborar uma teoria das mais eloquentes em relação ao oficio de ser concurseiro. Segundo ele os concurseiros passam por duas fases. “A primeira  é aquela da inocência, que a pessoa acha que (passar no concurso) não é tão difícil”. A segunda, que nem todos conseguem alcançar, é quando se torna um “concurseiro veterano”. Quando se tem serenidade suficiente para perceber o caminho que se tem pela frente, e os esforços que precisam ser feitos para percorrê-lo. “É como em um filme de guerra do Vietnã. Nos filmes, os veteranos não querem fazer amizade com os soldados que chegam porque sabem que eles vão morrer. Aqueles que conseguem sobreviver, e se tornam veteranos, são poucos. Nos concursos, a morte é o cara não sair dessa fase de inocência e  acabar desistindo”.

A poderosa, e alusiva, analogia mostra a força de espírito que move Charles Dias em sua luta contra si mesmo. “Na hora da prova é você contra você mesmo. É sobre o que você sabe, o que você estudou. Não têm amigos, família, concorrentes, nada. É só você”. Dessa verdade luminosa surgiu o nome de seu famoso blog, “concurseiro solitário”.

Os dois anos de rigidez militar, prazo ideal de estudo defendido por Charles, estão se aproximando do fim e a sua meta continua sendo passar em um concurso, cuja remuneração mínima seja R$ 10 mil. “Para poder fazer valer todo esse sacrifício, né?”. Nesse contexto, o concurso promovido pelo Banco Central para analista deve ser sua última missão.

Reinaldo Matheus Glioche/SP

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