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Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Elson era só mais um Silva de um Brasil que tem tantos. Com oito anos já se viu de enxada em punho no meio...

Redação
Publicado em 04/09/2009, às 15h52

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Elson era só mais um Silva de um Brasil que tem tantos. Com oito anos já se viu de enxada em punho no meio da plantação, vendo o sol se levantar e se pôr detrás dos morros de Jacobina, terra de tanta beleza e tanta miséria que o olho não sabe se brilha ou se chora. No coração da Bahia, o coração do menino disparava, veloz como cavalo livre, curioso pela vida e pelo mundo que se estendia sem fim horizonte afora. A mãe, dona Isaltina, costurava vestidos de festa em troca do sustento dos quatro filhos, que amanheciam na roça com seu Antônio, o pai. Era feijão e batata para todo lado, mas, muitas vezes, no prato vinha tão pouco que era a fome quem roncava quando Elson ia dormir.

Aos treze anos, resolveu deixar o sertão e os cinco Silva que amava para trás, desaparecendo na poeira de um ônibus que lhe trouxe para São Paulo, mais de dois mil quilômetros adiante dos morros de Jacobina. Chegou com um primo, para ajudá-lo na construção como ajudante de pedreiro, já que as mãos pequenas de criança só lhe permitiam carregar sacos de cimento, cal e areia, misturá-los, levar aqui e acolá as latas de tinta. Dormia ali mesmo, na obra. E faziam todos juntos a sua ceia ao redor de uma lata vazia de impermeabilizante Vedacit, usada como panela para prepararem o frango de todo dia. Elson era mais um nordestino no Sudeste, mais um novo baiano que atravessava as avenidas Ipiranga e São João assombrado com o tamanho da realidade.

Quando a obra ficou pronta, surgiu mais uma, e outra, e outra. Entre uma e outra construção, trabalhou no supermercado Matarazzo como empacotador e caixa. Enquanto reformava restaurantes, pensava em como seria bom trabalhar ali e ter sempre comida à mesa. Mas não tinha. Elson, nessa época, morava em um quartinho minúsculo no Grajaú e, quando o fantasma do desemprego surgiu em sua porta, comia carcaça de frango com farinha na falta de algo melhor. Fez até bico desfilando na calçada da avenida Paulista com uma placa amarela onde se lia “compro e vendo ouro”. Foi então que conseguiu, tal como queria, um emprego em um restaurante chinês. Começou lavando pratos, depois de oito dias já fazia as sobremesas e, após um ano, já se tornara segundo cozinheiro. Só de espiar o chef na cozinha, aprendera a fazer os 102 pratos do cardápio. “Sempre fui curioso. Nunca tive preguiça”, seus olhos determinados não mentem.

Em outro restaurante, unicamente japonês, aprendeu o beabá de um perfeito sushi e sashimi com o dono do estabelecimento, encantado com tanto empenho. Daquelas mãos que erguiam casas assobradadas surgia afinal o milagre da delicadeza, como uma flor de dentro do asfalto. Quando o chef adoeceu, Elson mostrou que sabia fazer tudo com tal capricho que foi logo promovido. Ao salário juntava as rendas polpudas com seus trabalhos extras. Com o objetivo de juntar dinheiro e ter seu próprio negócio futuramente, Elson comprava polpas de fruta em Ribeirão Preto (a 313 quilômetros da capital) e baldes de sorvete com desconto na própria fábrica, e os revendia para diversos restaurantes da capital. Além disso, tinha bons ganhos com a comercialização de sua invenção: um tempurá de sorvete.

Há cinco anos, finalmente, Elson inaugurou a primeira unidade de seu próprio restaurante, o Koban, em Moema, que se tornou uma referência no ramo. Elson não queria ser apenas mais um, então caprichou na decoração, na qualidade da comida e no atendimento, e fez brotar mais duas unidades, também em regiões nobres: Itaim e Granja Viana. Hoje tem 42 anos, duas filhas – Tatiana, de 18, e Jéssica, de 14 – e 104 funcionários. Em novembro, atravessará o mundo e passará quinze dias no Japão à caça de novas ideias. No entanto, dentro do globo castanho dos seus olhos, há um outro mundo só seu, construído de muito sonho, suor e concreto.

Lygia Roncel

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