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Jornalismo Esportivo

Jornalista é jornalista em qualquer área

Redação
Publicado em 20/03/2008, às 14h13

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Nesta semana, a seção “Profissões & Cursos” apresenta entrevista especial com o jornalista Juca Kfouri, apresentador e comentarista dos canais ESPN e da rádio CBN (SP), colunista do jornal Folha de S. Paulo e que escreve diariamente em seu Blog do Juca, hospedado no portal Uol. Confira

JC&E – Quem é o jornalista Juca Kfouri?

Juca Kfouri – Se eu tivesse que definir em uma palavra eu te diria que antes de mais nada é um cidadão brasileiro indignado. E que achou no jornalismo um meio de expor a sua indignação com as coisas que acha que estão erradas.

JC&E – E como foi o início da sua carreira?

Juca – Por acaso. Fazia Ciências Sociais na USP e a Abril ia lançar a Placar. Eu tinha um amigo que trabalhava no Dedoc – Depto. de Documentação da editora. Fui entrevistado e gostaram de mim. Trabalhei quatro anos lá, fiz faculdade e comecei a fazer pós. Eu pretendia seguir a carreira acadêmica. Mas aí recebi o convite para ser chefe de reportagem da revista Placar sem que eu nunca tivesse escrito uma única reportagem. Aí eu tive de escolher e percebi que tinha sido picado pelo vírus do jornalismo.

JC&E – Como você define jornalismo esportivo?

Juca – Jornalismo é jornalismo. É aquele que anda de sandália e camiseta? Não. Jornalista é jornalista em qualquer área: no esporte, na política, na cultura. É o cara capaz de fazer qualquer tipo de matéria. Claro que terá mais ou menos dificuldade de acordo com o seu grau de preferência, de interesse, mas quando você faz o tipo de jornalismo que eu procuro fazer de alguma maneira trata de política, de cultura, de economia. Às vezes, faço colunas inteiras na Folha de São Paulo em que a bola não aparece em nenhum momento.

JC&E – Antes de qualquer coisa, jornalista é investigador?

Juca – Eu sempre digo isso. Até pra fazer uma matéria de decoração. Por exemplo, você trabalha na Casa Cláudia e precisa transformar uma área de 60 metros quadrados numa sala estilo Luiz XV. O que você vai fazer? Aí, você pensa: bom, o que é uma sala Luiz XV? Vai entrar na internet e ver que Luiz XV é um estilo tal. Aí, você vai fazer. Então, eu digo sempre que jornalismo investigativo não é necessariamente jornalismo de denúncia, que é o que acabou virando. A matéria que eu mais gostei de ter feito na minha vida foi pura investigação e não deixou ninguém mal, que é a matéria da descoberta da identidade do [Carlos] Zéfiro. Foi uma investigação. Era um segredo guardado a sete chaves há 30 anos.

JC&E – Conte sobre esse trabalho.

Juca – Cheguei na Playboy [revista onde foi diretor de 1991 a 1994] e perguntei pra mim mesmo o que tem no mundo de Playboy que as pessoas não sabem. O que é equivalente no mundo de Playboy ao trabalho que a gente fez sobre a Máfia da Loteria Esportiva, da Placar [entre 1979 e 1995, Juca dirigiu a revista, tendo como maior trabalho a organização da reportagem, escrita por Sérgio Martins, em 1982, denunciando que jogadores eram comprados por apostadores, a fim de garantir que os resultados dos jogos da loteria seriam aqueles em que haviam apostado]? Pô, a identidade do Zéfiro. Fui atrás e descobri quem era ele [Carlos Zéfiro era o pseudônimo do funcionário público do Rio de Janeiro, Alcides Aguiar Caminha, com o qual ilustrou e publicou, durante as décadas de 50 a 70, histórias em quadrinhos de cunho erótico conhecidas por “catecismos”. Esses gibis eram vendidos de forma clandestina e, caso fossem descobertos, Alcides correria o risco de ser demitido do emprego].

Pudemos contar, ele foi homenageado e acabou morrendo três meses depois. Por pouco ele teria levado pro túmulo e não teria desfrutado da glória. Isso foi jornalismo investigativo e não necessariamente jornalismo de denúncia.

JC&E – Como deve ser a relação jornalista-fonte?

Juca – Claramente estabelecida. Sempre que há confusão é ruim. A pior coisa que pode acontecer é você ficar amigo da sua fonte, porque em última análise é aquilo de sempre: não há profissão solitária igual ao jornalismo. Você perde o amigo, mas não perde a notícia, que dirá a fonte? Mas não deve ter uma relação promíscua com a fonte. Ela não pode te usar, senão passa a “plantar” coisas por seu intermédio.

Cito o caso do Daniel Dantas [banqueiro acusado de contratar, por meio da Brasil Telecom, a empresa Kroll para espionar executivos da Telecom Itália. Esta, disputa com o Opportunity, banco de Dantas, o controle da Brasil Telecom]. Ele, por competência, estabeleceu uma rede de jornalistas com os quais ele se relaciona e que, quando se deram conta, estavam fazendo o serviço que ele queria. Alguns, deliberadamente, outros, talvez nem tanto, talvez ingenuamente.

JC&E – Fale de outra relação: empregador e notícia.

Juca – É muito claro: não trabalho onde não tiver absoluta independência. Trabalho na rádio CBN e critico a Globo Esportes [empresa das Organizações Globo, que negocia os direitos de transmissão das principais competições esportivas do Brasil]. Critico o horário dos jogos no Brasil por causa da grade da televisão.

JC&E – E quanto ao caso do Blog do Paulinho, estudante de jornalismo que escreve sobre esporte e que saiu do portal Uol alegando censura ao seu trabalho?

Juca – Sou contratado do Uol e repercuti o caso no meu blog. Ele foi advertido sobre ter publicado fotos do sítio futebolinterior sem autorização, contrariando as regras do Uol. Tentei convencê-lo a tirar as fotos. Mas ele decidiu manter sua posição e, após a segunda advertência, o blog saiu do ar.

Ele não se conformou e perguntou pra mim por que eu posso e ele não. Mas estava claro: eu sou contratado do Uol, que me paga, me defende juridicamente quando alguém se sente ofendido. Avaliam que o benefício é maior que o risco. É diferente um blog gratuito que, por melhor que seja, e é, tem de se cingir às regras que estão lá estabelecidas.

Se eu estivesse convencido de que ele foi censurado, eu saía do Uol como saí da [editora] Abril aos 25 anos de casa porque disseram que eu não podia falar de A e B. Lamento o desfecho, mas não recrimino nem um lado nem o outro.

Fosse eu o Uol, daria um jeito de manter o blog dele, o teria tirado do status de blog gratuito e o convidaria a ser blog parceiro pela excelência do trabalho dele e pela coragem. E, se eu fosse o Paulinho, teria feito exatamente o mesmo que ele fez, até pela idade que tem e pela inexperiência.

JC&E – A gente falou sobre um jovem estudante que escreve sobre esporte. Ele ainda não é formado. O que você pensa sobre o diploma de jornalismo?

Juca – Acho muito bom que existam escolas de jornalismo. Elas servem para melhorar o nível. Gostaria que fossem muito melhores do que são, mas aí não são só as escolas de jornalismo. Gostaria que o sistema educacional brasileiro fosse melhor e preparasse muito melhor os alunos que vão para o mercado. Sou a favor das escolas e do diploma, mas sou contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo.

JC&E – E sobre ex-jogadores fazendo o papel de jornalistas?

Juca – Há gente muito melhor que nós dois juntos. Não é o caso do Caio [comentarista da TV Globo], nem do Rivellino [ex-ídolo corintiano e campeão do mundo em 1970 pela seleção, que já trabalhou como comentarista na tevê]. E também não é o caso de um bando de jornalistas, apesar de terem diploma. Não são bons pro jornalismo. Não são bons para a imprensa.

O que eu quero dizer é que essa nossa profissão não é daquelas que você não executa se não tiver o conhecimento técnico específico. Drauzio Varella fará melhores matérias sobre medicina que você e eu juntos.

JC&E – O que acha de uma espécie de Exame da Ordem para jornalismo ou mesmo outras carreiras?

Juca – Eu gosto da idéia de ter um filtro. Pelos índices de reprovação desse exame, você vê o nível das pessoas que saem das faculdades de Direito. Imagine Medicina. Em que mãos a gente cai?

JC&E – Hoje, o ensino do jornalismo nas escolas está muito pior do que antes?

Juca – Você acredita se eu te disser que acho que não? A minha experiência de palestrante me revela uma garotada melhor hoje que há 10 anos. Estão mais conscientes que não vão chegar a fazer na capa da Veja a matéria principal do Jornal Nacional ou a primeira página da Folha. Estão mais conscientes, mas talvez com uma carência cultural em algumas áreas.

JC&E – Juca, o que você diz para quem quer se enveredar pelo caminho do jornalismo?

Juca – Jamais curvar a espinha. Já dizia Millôr Fernandes: quem se curva diante dos opressores mostra a bunda para os oprimidos. Não deve se curvar a uma proposta indecorosa. É comum ouvir de jornalistas em palestras para estudantes que o profissional de jornalismo é o que mais morre [prematuramente] depois do bombeiro. Mas eu sou absolutamente feliz com a profissão que eu tenho. É difícil? Claro que é. Precisa ser independente, curioso, ler tudo o que cai nas mãos, a boa literatura em língua portuguesa. É preciso conhecer uma segunda língua tão bem quanto o português.

JC&E – A propósito, jornalista monoglota tem vez?

Juca – Cada vez terá menos vez. Terá que ser muitíssimo talentoso pra só falar uma língua e sempre estará em desvantagem nas peneiras.

JC&E – Mesmo aquele que é capacitado?

Juca – Eu te diria que ele vai encontrar barreiras pelo menos nas grandes redações. Quando comecei, falar uma segunda língua era diferencial. Hoje, nem diferencial é mais. Às vezes, o cara é analfabeto de pai e mãe, mas fala inglês. Então, virou uma coisa obrigatória.

Meu inglês é mequetrefe, mas eu me viro. Agora, nunca passei vergonha, só que deveria saber mais. Eu tenho uma dificuldade principalmente com pronúncia e sou absolutamente perfeccionista. Sozinho eu me viro bem, mas se puser do meu lado alguém que me conheça bem e fale inglês melhor do que eu simplesmente não abro a minha boca. De vergonha.

JC&E – Juca, o que você pensa sobre jornalistas e profissionais de outras áreas atuando no esporte? Isso é comum em Copas do Mundo e Olimpíadas, não?

Juca – Acho uma bobagem corporativa quando dizem que eles ocupam o lugar do jornalista esportivo. Não ocupam. O Pelé vai a uma Copa do Mundo, só que ele entra no lugar de um comentarista. Ele vai, mas irão uns quatro jornalistas junto para produzi-lo.

Sobre jornalistas de outras áreas atuando no esporte, eu acho que depende muito da competência de cada um. Eu não tenho nenhum temor de sair do jornalismo esportivo. Até já fiz isso. Como também tenho absoluta convicção de que se o Clóvis Rossi viesse fazer jornalismo esportivo faria muito bem.

JC&E – Juca Kfouri daria certo hoje?

Juca – Sou o Juca Kfouri hoje, 40 anos depois de ter começado. Aliás, no início era o José Carlos Amaral Kfouri. Nunca fiz nada que ferisse o princípio do direito, o que não significa que eu não tenha feito coisas das quais discordava porque meu chefe mandou. Cansei de fazer.

JC&E – Por exemplo...

Juca – Vou te dar um exemplo bizarro: revista Playboy. Eu encontro o dono da empresa, Roberto Civita [presidente da Editora Abril], no elevador, e ele me pergunta quem vai ser a capa do aniversário da revista. Respondo a ele que estamos quase conseguindo convencer a Malu Mader. Digo que está duro, mas que está quase lá. Mas aí ele diz que uma loira tal vai dar mais resultado. Meia palavra basta. Ele é o dono da empresa. Então, cheguei à redação e disse para pararem com a Malu Mader e que faríamos a loira. E não deu outra. A loira aceitou fazer por um terço do valor pedido pela Malu Mader e vendeu muito. A revista com a Malu Mader talvez só chegasse a vender metade.

Fiz a melhor loira que eu pude. Só não me peça para fazer uma capa elogiando Ricardo Teixeira [presidente da CBF desde 1989 e que permanecerá à frente da entidade até 2015].

JC&E – E sobre jornalista fazer merchan?

Juca – Essa é uma pergunta que só existe no Brasil.

JC&E – Você já fez?

Juca – Nunca. Veja bem, quero deixar claro que cansei de fazer cagada na minha vida. Tento limpá-la da melhor maneira possível. Mas nunca fiz de propósito. Errei mil vezes. Esqueça o esporte. Por acaso eu posso ser garoto-propaganda do Bradesco e ter uma coluna de Economia? É tão óbvio o conflito de interesses, porque quando eu fizer um elogio verdadeiro ao Bradesco dirão que o fiz por ser garoto-propaganda do banco. Da mesma forma, quando fizer uma crítica verdadeira ao Itaú, dirão: é claro, ele está criticando o Itaú porque é concorrente do Bradesco.

JC&E – E, sendo corintiano assumido, quando elogia ou faz críticas a esse clube, não há o mesmo conflito? Tem diferença?

Juca – Tem e você não pode disfarçar que não tem. Porque quando elogio o Corinthians o faço com uma emoção incapaz de fazer em relação ao São Paulo. Eu elogio o São Paulo racionalmente. Com o Corinthians, além de elogiar racionalmente, acrescento em emoção. E quando faço crítica ao meu time, é meio indisfarçável o tom de decepção.

Só que eu não deixo de falar nada do meu time porque pode prejudicá-lo. E não faço nada para beneficiá-lo. Também não deixo de falar nada que possa prejudicar o Palmeiras só para não dizerem que é com intenção de prejudicar o rival. Mas sei que os fanáticos e irracionais vão dizer que falo as coisas porque sou corintiano. Você paga um preço por saberem o seu time e pagaria outro se tentassem adivinhar. Prefiro que saibam. Acho que é um jogo mais aberto.

JC&E – Telefone, internet ou jornalismo na rua?

Juca – Rua. Se eu olho nos seus olhos e pergunto: você é acionista da Ford? Aí, você demora uns 10 segundos pra responder, baixa os olhos, avermelha o rosto, placidamente. Ou então, diz: nunca. Quem disse essa bobagem? Você percebe? Não tem o que substitua. Abdicar das relações pessoais é abdicar das coisas mais essenciais na prática da profissão. Mas aí você diz: Juca, nos dias de hoje, com a necessidade de rapidez, não dá, né? Então, te digo que isso explica em boa parte porque é que as coisas estão do jeito que estão.

JC&E – O que dizer para o vestibulando que quer fazer jornalismo, um setor com muita gente e poucas vagas?

Juca – É. Não tem muito como escapar. É a lei da oferta e da procura. Mas está melhor que há 10 anos. Tem até gente se arriscando a investir em fazer blog e tal. De fato, o mercado é restrito em função do número de formandos e as empresas de comunicação estão se beneficiando disso. Mas elas se darão conta de que é preciso pagar melhor. E os editores de impresso também se darão conta de que dizer, na quinta-feira, em sua manchete, que o papa morreu, quando ele morreu na quarta, às 14h, não dá mais. Aí, eles vão ter de dizer pra onde vai a igreja.

JC&E – E sobre a mulher no jornalismo esportivo?

Juca – Ontem, vítima de preconceito. Hoje, de igual para igual. Mas é preciso separar o que é mulher jornalista e o que é a gostosa que está fazendo programa de televisão.

JC&E – Agora vamos para um jogo rápido. Em poucas palavras, quero que fale sobre alguns temas.

• Esporte: futebol;

• Imprensa esportiva: promíscua;

• Liberdade de expressão: essencial;

• Jornalismo e publicidade: incompatibilidade tão óbvia que só em países periféricos é possível vê-los juntos;

• Dirigente brasileiro: corrupto;

• Empresário de jogador: estão na deles;

• Atleta de futebol: despreparado;

• Lei Pelé: uma oportunidade de modernização que os cartolas corruptos impedem de ter curso;

• Pelé: o melhor jogador de futebol de todos os tempos e um cidadão lamentável;

• Ricardo Teixeira: o símbolo maior de uma situação calamitosa;

• Zico como presidente da CBF: um sonho impossível;

• Ídolo: João Saldanha, um exemplo;

• Globo ou ESPN Brasil: Hoje, sem dúvida ESPN Brasil. Liberdade, mesmo que tarde;

• Corinthians: uma paixão de criança;

• André Kfouri: é a prova da evolução da espécie;

• Maior emoção na vida: nascimento de filhos e netos;

• E profissionalmente: em 1977, Corinthians campeão;

• Emoção que ainda sonha viver: Brasil, país do futuro.

• Maior amigo: são tantos;

• Inimigo: São tantos.

Rogerio Jovaneli/SP

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+ Resumo do Concurso Profissões e Cursos

Profissões e Cursos
Vagas: Não definido
Taxa de inscrição: Não definido
Cargos: Não definido
Áreas de Atuação: Não definido
Escolaridade: Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior
Faixa de salário:
Organizadora: www.dinamicaconsultoria.com.br

+ Agenda do Concurso

20/03/2009 Divulgação do Resultado Adicionar no Google Agenda

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