O mais ricos perderam mais renda do que os mais pobres no último trimestre de 2021, mas o segmento que ganha menos ainda não conseguiu recuperar a renda média após dois anos de pandemia da Covid-19. Entenda
Mylena Lira | redacao@jcconcursos.com.br
Publicado em 07/04/2022, às 15h22
O rendimento médio dos 10% mais ricos do Brasil atingiu o pior nível da série histórica (iniciada em 2012), de acordo com estudo divulgado nesta quinta-feira, 7 de abril de 2022, na sétima edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles. Em contrapartida, os mais pobres estão recuperando renda. O levantamento aponta que a renda média per capita dos mais afortunados caiu de R$ 6.917 em 2020 para R$ 6.424 no último trimestre de 2021. No outro extremo, os 40% mais pobres, que ganhavam R$ 195 em 2020, passaram a receber R$ 239 no quarto semestre do ano passado.
“Todo esse movimento tem contribuído para a redução de desigualdade de renda, nesta conjuntura dos mais ricos perdendo renda e os mais pobres se recuperando. No entanto, não é uma situação desejável, pois não é justiça distributiva. Os mais pobres continuam ganhando pouco e os mais ricos passaram a ganhar menos”, esclareceu Marcelo Gomes Ribeiro, um dos coordenadores do estudo, professor do IPPUR-UFRJ e pesquisador do Observatório das Metrópoles. A redução de ganhos está ligada à alta da inflação.
Porém, mesmo após dois anos do início do período pandêmico da Covid-19, os mais pobres ainda suportam prejuízos, pois não conseguiram recuperar o patamar de renda do começo de 2020. Hoje, os rendimentos médios desse segmento, que viu sua economia ser reduzida em um terço após os efeitos negativos causados pelo coronavírus, é cerca de 9% inferior. Isso porque 40% dos mais pobres, em geral, trabalham em atividades informais, que ficaram prejudicadas com a implantação do isolamento social. Os mais ricos, porém, mantiveram a renda média no primeiro ano de pandemia.
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O estudo mostra que um dos grupos mais afetados com a perda de rendimento no segmento de baixa renda são as crianças. No auge da pandemia, 32,2% das crianças de até cinco anos de idade viviam em lares com rendimentos do trabalho inferiores a ¼ do salário-mínimo per capita. No último trimestre de 2021, esse percentual foi para 26,7%. Contudo, em 2013, eram apenas 19% nessa situação - o menor registro da série histórica.
Esse cenário é preocupante, pois estudos mostram que a vulnerabilidade econômica na primeira infância prejudica o desenvolvimento cognitivo, o aprendizado e, por consequência, o rendimento escolar. Ao todo, hoje existem 1,6 milhões de crianças em lares com essa situação econômica no conjunto das regiões metropolitanas. O número é superior ao da população total de regiões metropolitanas como as de Natal, João Pessoa, Maceió e Florianópolis, por exemplo.
De acordo com o levantamento dos pesquisadores, no quarto trimestre de 2021, três cidades do nordeste dominavam o ranking de desigualdade. São elas: João Pessoa, Recife e Natal. Na sequência, aparecem o Rio de Janeiro, no sudeste, e Belém, na região norte.
Já a metrópole com menos desigualdade está localizada no Mato Grosso: Vale do Rio Cuiabá, formado pelas cidades de Cuiabá, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande. Depois constam Curitiba, Goiânia e Florianópolis.
O Boletim Desigualdade nas Metrópoles é produzido trimestralmente pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS) e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). A fonte de dados é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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