Muitos agentes tiveram que deixar de realizar algumas atividades comunitárias devido ao seu estado de saúde e à violência. Veja detalhes do estudo levantado no Nordeste brasileiro
Um estudo recente realizado pela Fundação Oswaldo Cruz do Ceará (Fiocruz Ceará) está trazendo à tona uma preocupante realidade enfrentada pelos agentes comunitários de saúde (ACS) que atuam no Nordeste brasileiro. A pesquisa abrangeu quatro capitais (Fortaleza, Recife, João Pessoa e Teresina) e quatro cidades da região (Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte e Sobral) e foi conduzida por mais de 20 pesquisadores de cerca de 13 instituições do Brasil e do exterior.
Os resultados iniciais do estudo, que será desenvolvido ao longo deste ano, revelam que a violência e a pandemia de Covid-19 causam um impacto significativo na saúde física e mental dos ACS. Entrevistando 1.944 agentes de saúde em oito cidades nordestinas, o estudo constatou que 64,7% dos ACS tiveram sua saúde mental afetada pela violência, enquanto 41,1% relataram problemas de saúde física em decorrência da violência.
Em relação à pandemia de Covid-19, o estudo revelou que 77,6% dos ACS trabalharam na linha de frente contra a doença, apesar de 83,8% deles não terem recebido treinamento específico para lidar com o vírus. Surpreendentemente, para 80,7% dos agentes, a violência não influenciou em sua atuação durante a pandemia. No entanto, a pesquisa também apontou que 40,4% dos ACS acreditam que o trabalho em equipe melhorou durante a pandemia, enquanto 37,9% alegam que houve uma piora nesse aspecto.
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A coordenadora da pesquisa, Anya Vieira Meyer, da Fiocruz Ceará, enfatizou a alarmante situação dos ACS, destacando que cerca de 40% deles estão em risco de desenvolver transtornos mentais comuns, como ansiedade e depressão. O uso de medicamentos para controlar esses transtornos atinge entre 15% e 20% dos agentes. Ela observou que muitos agentes tiveram que deixar de realizar algumas atividades comunitárias devido ao seu estado de saúde e à violência presente nas áreas em que atuam.
Em Fortaleza, uma das cidades estudadas desde 2019, o impacto da violência e da Covid-19 foi particularmente pronunciado nas comunidades mais vulneráveis. Os dados revelaram que, nessas áreas, as atividades dos ACS foram reduzidas devido ao medo da violência e à pandemia. Antes da Covid-19, 32% dos ACS em Fortaleza apresentavam risco de transtornos mentais comuns, mas em 2021, esse número aumentou para 50%.
Anya Vieira Meyer destacou a complexa situação vivenciada pelos agentes comunitários de saúde, que interagem diretamente com o público em territórios frequentemente afetados pela violência. Ela também ressaltou que seis das 30 cidades mais violentas do mundo estão localizadas no Nordeste do Brasil, de acordo com o ranking da organização não governamental Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal, do México.
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