Traçar um plano grandioso é um método audacioso, mas será que dá certo? Tente pensar em planos mais curtos e acessíveis para conquistar a meta desejada
“Triunfam aqueles que sabem quando lutar e quando esperar.” – Sun Tzu
A maioria dos planos fracassa. Por que será? Erro de projeto, de cálculo, de avaliação? Pode ser. Falta de recursos financeiros, de apoio, de suporte? Igualmente possível. Apesar de relevantes, esses dificilmente são os principais motivos do insucesso de um projeto. A maior parte não dá certo pelo fato de seus idealizadores e executores não perceberem algo muito importante: o valor dos pequenos planos na composição de um mais amplo.
Se você me permite, amigo leitor, gostaria de contribuir para uma mudança em sua forma de lidar com isso. Quero ajudá-lo a efetivamente concluir tudo que tiver começado. Para tanto, tomarei o jogo de xadrez como base para uma analogia, mas pode ficar sossegado, pois não será necessário entender nada das regras para compreender a mensagem.
Quem me acompanha nas redes sociais sabe que voltei, de forma ainda tímida, a jogar xadrez. Eis aí algo que me fascina e que tive o privilégio de aprender muito jovem. Diferentemente dos jogos que dependem exclusivamente da sorte, xadrez é pura técnica, raciocínio, concentração, planejamento.
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A seu modo, tem tudo a ver com a vida, afinal, assim como ocorre com os passos que damos em nossa trajetória terrena, cada jogada de xadrez gera infinitas possibilidades, e, para o jogador chegar à vitória, precisa se planejar muito bem, antecipando ações e reações de quem se aventurou com ele na partida.
No tabuleiro, o meu exército é de peões, torres, cavalos, bispos, a rainha e o rei, o qual deve ser protegido contra qualquer ataque fatal. Na vida, também tenho lá as minhas armas, que devo usar com habilidade e discernimento se pretendo vencer.
É claro que a vida não é exatamente um jogo, com vencedores, perdedores e, eventualmente, empates, mas ninguém nega que nossa caminhada se alterna entre avanços e retrocessos. Sucessos e insucessos são apenas a materialização dos nossos planos, o resultado deles, sobretudo dos pequenos. Estou dizendo, caro leitor, que, tal como o xadrez, nunca é sobre um único lance, tampouco sobre o projeto como um todo. O diferencial, mesmo, são os planos menores, elaborados e executados passo a passo com o intuito de acertar o rumo e entrar na rota da vitória final.
Tendemos a fazer esquemas mirabolantes, com prazos de mais ou de menos e metas impossíveis. O processo de execução se torna complicado e às vezes desanimador, difícil mesmo, cheio de obstáculos. Frustramo-nos quando o desenrolar não bate com nossas expectativas e, muitas vezes, cogitamos desistir ou pelo menos “dar um tempo”. Não deveria ser assim. Precisamos ser menos rígidos.
Napoleão Bonaparte (1769-1821), ele mesmo um grande enxadrista, dizia que a grande arte é mudar durante a batalha. Para ele, era péssimo um general seguir com um plano inflexível. Na mesma linha, o grande Sun Tzu, no mais conhecido manual que sobreviveu ao tempo, A Arte da Guerra, ensinava: “A água não tem forma constante. Na guerra também não há condições constantes. Por isso, é divino aquele que obtém uma vitória alterando as suas táticas em conformidade com a situação do inimigo”.
Todo plano acaba passando por pequenos ou grandes ajustes. Se há algo em comum entre os vencedores, é a vida marcada por rotinas imperfeitas e mudanças de percurso. Necessidades não são estanques.
No mundo dos concursos, as bancas organizadoras seguem novas tendências, que logo se tornam ultrapassadas. A tecnologia impõe um eterno movimento rumo ao aprimoramento e à celeridade. Enfim, o mundo muda. A nós cabe nos ajustarmos, e pronto! Acostume-se com isso e sofra menos!
Diferentemente do que imagina o leigo, um grão-mestre (título vitalício concedido a enxadristas de desempenho reconhecido internacionalmente) não consegue prever exatamente o que acontecerá 10, 20, 30 jogadas à frente, mas tem, sim, uma boa noção do que sucederá a partir de um lance, já que o oponente pode ser forçado a reagir de uma dada forma. Em outras palavras, ele conhece tão bem o jogo que ganha enorme vantagem sobre o outro. Isso lhe soa familiar?
Além disso, o bom enxadrista estuda o adversário, e o faz sabendo que traços da personalidade influenciam bastante a tática de jogo. Ora, quem conhece bem o inimigo tem maiores chances de prever seu próximo passo. É como sintetizou Sun Tzu: “Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo lutará cem batalhas sem perder”. Quem faz o dever de casa e se prepara adequadamente para o próximo desafio sai na frente, é claro.
Então me diga: o que você planeja fazer com sua vida, que é única e preciosa? Talvez concluir algo que tenha começado? Se você pensa mais ou menos como eu, que tal pôr em prática a sugestão de partir para micrometas, microetapas, micro-objetivos, que é a forma mais simples e eficaz de começar e terminar qualquer coisa? Há uma frase atribuída a Victor Hugo da qual gosto bastante: “Nada é mais poderoso do que uma ideia cuja hora chegou”. Como começar? Como fazer?
Bem, a ideia é aumentar os níveis de dopamina – neurotransmissor que ativa os circuitos de recompensa. Funciona assim: estabelece-se uma pequena meta. Ao alcançá-la, estabelece-se outra. Assim, o cérebro é estimulado, a motivação cresce, e a eficiência também.
Imagine, por exemplo, que o seu grande sonho seja passar no concurso para a Polícia Civil de determinado estado ou do DF. Talvez você esteja há uma década sem estudar, tendo, portanto, perdido totalmente o ritmo, embora esteja bem fisicamente. No seu plano de conquistar a vaga, precisará ler muito material em PDF. Comece se dedicando 5, 10, 15 minutos por dia. Parece pouco, mas é melhor pouco do que nada, concorda?
É o que diz nosso Diretor de Mentoria e Coaching, Fernando Mesquita, para quem “algum estudo é melhor do que nenhum estudo”. Aos poucos, vá aumentado para 20, 30, 50 minutos, até estar devidamente preparado para atingir a maior meta de todas: a aprovação.
Boa parte das pessoas procrastinam por serem incapazes de calcular quanto tempo levariam para bater uma meta. O corpo como um todo, e o cérebro, em particular, como já dissemos, são um tanto preguiçosos. Vão sempre preferir ficar sossegados, sem se arriscar demais. Cabe a nós, condutores dessas máquinas poderosas, sair do repouso, da inércia, e forçar o organismo a acelerar. Se você sentir que estagnou em uma microetapa por estar com preguiça, trate de se levantar – marque dois minutos no relógio para isso – e fazer o que tem de fazer.
Um dado importante sobre a definição de metas é que não se deve aceitar planos ou microplanos padronizados. Crie um que seja adaptado às suas necessidades, à sua realidade, ao seu nível de conhecimento e de aptidão física. Você pode até recorrer a um profissional, mas a palavra final deve ser sua, de mais ninguém.
Também é crucial que você defina os tipos certos. Pesquisas sugerem que gente focada em cumprir metas imediatistas, como, por exemplo, perder peso para participar de um evento específico – um casamento, o reencontro da turma da faculdade ou algo do gênero – em geral a alcança, mas logo volta à condição anterior.
Já quem estabelece metas mais perenes, como a de entrar em forma para se sentir bem ou ganhar em saúde, progride mais devagar, porém obtém resultados melhores no longo prazo. É a famosa força do propósito sobre qual já conversamos.
O seu plano atual parece muito distante de ser implementado? Então desenhe outros, menores, que, em conjunto, contribuam para alcançar o maior. Comemore as pequenas vitórias e siga em frente, meta a meta. Jogada após jogada, chegará a hora do xeque-mate.
“Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Para ser vitorioso você deve enxergar o que não está visível.” – Sun Tzu, A Arte da Guerra
*Texto de Gabriel Granjeiro, Diretor-Presidente e Fundador do Gran Cursos Online
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