As iniciativas para reduzir esse problema já refletem na empregabilidade dos estudantes negros no Brasil. Confira todos os detalhes!
Douglas Terenciano | douglas@jcconcursos.com.br
Publicado em 16/06/2021, às 08h40 - Atualizado às 08h51
A Companhia de Estágios, que oferece soluções de recrutamento e seleção de estagiários, trainees e aprendizes, divulgou levantamento inédito sobre a desigualdade racial no mundo corporativo. De acordo com o estudo, as contratações de estagiários pretos e pardos triplicaram neste ano. Nos primeiros três meses de 2020, foram contratados 250 estagiários negros. Em 2021, no mesmo período, este número saltou para 743, um aumento de 197%.
As iniciativas para reduzir esse problema já refletem na empregabilidade dos estudantes negros no Brasil. "Ainda que a pandemia tenha desacelerado a média de efetivação de estagiários de modo geral no mercado, os resultados do primeiro trimestre de 2021 são satisfatórios quando olhamos para a taxa de contratação de jovens negros e mostra que o indicador aumenta ano a ano, assim como a procura das empresas", explica Tiago Mavichian, CEO e fundador da Companhia de Estágios.
Entre 2018 e 2019, o aumento na contratação de universitários negros foi de 96%. Quando o comparativo é feito olhando o período de 2018 a 2020, o índice sobe para 150%. Uma das explicações para este cenário é o crescimento de programas de estágio com metas de diversidade racial. Em 2017, 42% dos programas de seleção conduzidos pela Companhia de Estágios tinham metas de diversidade racial. No ano seguinte, em 2018, subiu para 61%. Alcançou 80% em 2019 e, no ano passado, os programas com metas de diversidade já correspondiam a 87%.
"Antes, as empresas se preocupavam em incluir pessoas com alguma deficiência nos programas de seleção. Isso mudou de forma acelerada e a preocupação hoje é atrair não só PCDs, mas negros, mulheres, pessoas mais velhas e o público LGBTQIA+. Há pouco tempo, esses temas nem entravam em pauta; hoje, as discussões partem disso. Nosso papel é apoiar as empresas para que elas se comuniquem com estes diferentes públicos, formatando programas inclusivos que garantam um pipeline de talentos muito mais diverso", afirma Mavichian.
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Entre outros dados, o mapeamento aponta que, hoje, a maioria dos estagiários pretos e pardos são mulheres (55%), moram no Sudeste (85%) e têm idade média de 23 anos (a mesma média etária dos estagiários brancos). Ao olharmos para as diferentes regiões do Brasil, depois do Sudeste, as que mais possuem estagiários pretos e pardos são Nordeste (6%), Norte (4%), Sul (3%) e Centro-Oeste (2%).
Além disso, 38% dos estagiários negros são oriundos de escola pública, número 111% maior do que em 2019, quando 18% estudavam em instituições municipais, estaduais ou federais. Já o curso mais comum, tanto entre estagiários pretos quanto pardos contratados em 2020 é administração. Entre os estagiários autodeclarados pretos, destaca-se o curso de direito. Já entre os pardos, destacam-se as engenharias: civil, de produção, mecânica e química.
É importante pontuar que muitas companhias têm repensado pré-requisitos e feito uma revisão em ideias pré-concebidas para eliminar vieses e distorções. O levantamento da Companhia de Estágios revela, por exemplo, que as organizações estão contratando mais jovens sem experiência prévia. Em 2018, apenas 6% dos negros começavam a estagiar sem ter experiência no currículo. Em 2020, este número já era de 19% — um aumento de 217% em três anos.
"Os programas de estágio e trainee são uma importante porta de entrada para talentos negros no mercado de trabalho. Para incluir este público é fundamental rever os pré-requisitos que historicamente os excluem. Em vez de exigir inglês, excel e faculdades renomadas no currículo, por exemplo, deve-se focar nas competências comportamentais, avaliando fit cultural, história de vida, comprometimento e disposição para aprender — aspectos importantíssimos para o sucesso de um profissional e que não se ensina em cursos", ressalta Mavichian.
Isso é fundamental porque algumas desigualdades, como nível de inglês e Excel, ainda persistem. O número de negros aprovados com inglês avançado é menor do que o de brancos: 33% dos pretos aprovados afirmam ter inglês avançado; contra 54% dos brancos. O mesmo acontece com Excel: entre os contratados pretos, 17% tinham conhecimento avançado da ferramenta; ante 23% dos brancos.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, no segundo trimestre de 2020, o desemprego entre negros foi 71% maior que entre brancos, o que evidencia a necessidade de mudanças urgentes. "Ter um quadro de funcionários que reflita efetivamente a sociedade brasileira deve se tornar meta para todas as empresas, com ações de curto, médio e longo prazo para aumentar o número de negros em todos os níveis hierárquicos", diz Mavichian.
Os dados do levantamento sobre estagiários negros no Brasil da Companhia de Estágios foram coletados a partir de uma base de 3.347 estudantes negros, contratados entre 2018 a 2020. A pesquisa usa a mesma classificação de "cor ou raça" do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em que o termo negros se refere à soma das populações preta e parda.
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