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Lili, a cadela, só entende francês. Late com desespero para quem passa em frente ao portão...

Redação
Publicado em 14/08/2009, às 10h16

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Lili, a cadela, só entende francês. Late com desespero para quem passa em frente ao portão, para qualquer ruído, qualquer sombra, como se houvesse uma invasão iminente e coubesse a ela o papel de salvadora da pátria. “Coucher, Lili, coucher”, grita sua dona, da janela, mandando-a se deitar. Ela obedece por cinco minutos, e então volta a latir. É seu ofício, afinal.

Lili veio da Bélgica, de onde sua dona voltou há oito anos, um país europeu espremido entre a França, a Holanda e a Alemanha e que corresponde a 70% do tamanho do Estado do Rio de Janeiro. Ali, Márcia de Paula, a dona de Lili, passou dez anos com Marc, o marido belga. No meio tempo, acompanhando Marc durante seu mestrado nos Estados Unidos, engravidou e deu à luz a filha Débora, que já está prestes a assoprar a décima oitava vela e dar o passo inicial rumo ao mundo dos adultos.

Márcia era dentista, com diploma da USP e tudo o mais. Fez na Inglaterra dois mestrados na área, mais um curso de implantodontia na Suécia e outros cursos de complementação na França e na Suíça, sempre parando aqui e ali para tratar dos dentes alheios. Fala, fluentemente, inglês e francês. Conheceu o mundo, foi nômade o quanto pôde, e voltou satisfeita ao Brasil, mais especificamente a Fortaleza. Lá começou tudo do zero mais uma vez, vestiu de novo o velho jaleco branco e várias centenas de bocas problemáticas se abriram debaixo das luzes brancas do seu consultório durante os seis anos em terras cearenses.

Foi então que Márcia se cansou. Havia vinte anos que era dentista, mas, de repente, não quis mais ser, esvaziou-se da vontade de prosseguir com aquilo, como se todo o conteúdo da sua alma fosse despejado no mar da praia de Iracema. Era desilusão, daquelas grandes, um raio que cortou seu céu ao meio. Percebeu, no entanto, que aquela era a única profissão que sabia exercer, era tudo o que sabia fazer, além de cozinhar. Sim, porque cozinhar para os amigos e a família sempre foi um hobby.

Numa dessas revistas especializadas em culinária, leu sobre o prestigiado Institute of Culinary Education, com sede em Nova Iorque, que oferecia um curso profissionalizante de gastronomia. Consultou o coração, avisou o marido, deu um beijo na filha, fez as malas e foi. Sozinha. Um ano inteirinho debruçada em apostilas grossas repletas de receitas, das mais simples às mais sofisticadas, e que ainda hoje enfeitam sua cozinha e sua mesa. No final do curso, passou por um estágio obrigatório no restaurante DB Bistrô Moderne, do chef francês Daniel Boulud, considerado um dos melhores da alta gastronomia nova-iorquina. Foi um ano incrível, que esculpiu em Márcia um sorriso tão largo, tão profundo e perene, que chega a comover.

Hoje mora em São Paulo e a cozinha é seu escritório. Sobre a mesa, um laptop, opções de cardápios, receitas, listas de compras, anotações mil. É proprietária do Ideia Gourmet, que oferece serviços de gastronomia para quem desejar receber pequenos grupos de amigos sem ter trabalho na cozinha. “É o meu momento de dar o meu show”, ela se orgulha. No dia a dia, o que come nunca é arroz com feijão. No mínimo, quando está sem tempo ou criatividade, capricha no espagueteà bolonhesa. Acende um incenso, liga o rádio, canta, dança, seu palco é ali.

Rotina não há. Nessa quinta-feira, serviu um jantar caprichadíssimo para doze pessoas da high society. Na semana que vem, dois almoços a bordo de iates no Guarujá. A agenda é sua bússola e passeia entre os quatro pontos cardeais. Toca então o telefone e, do outro lado, é Débora, que estuda jornalismo em Brasília, pedindo a receita de batatas gratinadas, que a mãe explica com pormenores que terminam com um pouco de noz-moscada em pó salpicada sobre o queijo gruyère que cobre as batatas cortadas em rodela. Ainda bem que Lili não entende português, senão passaria vontade o dia inteiro...

Lygia Roncel

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