O Brasil pode sentir os efeitos negativos da guerra na Ucrânia deflagrada pela Rússia por meio de pelo menos três canais: combustíveis, alimentos e câmbio. Entenda
Mylena Lira | redacao@jcconcursos.com.br Publicado em 27/02/2022, às 10h49
A guerra na Ucrânia deflagrada pela Rússia na última quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022, deve impactar de forma negativa a economia brasileira, principalmente por meio dos canais de combustível, alimentos e câmbio. Segundo pesquisa Sondagem da América Latina, divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a invasão russa vai interferir na inflação e pode elevar os juros, comprometendo o crescimento econômico para este ano ao reduzir o espaço para a melhoria dos preços e do consumo.
A pesquisa ouviu 160 especialistas em 15 países e constatou a deterioração do clima econômico. Na média da América Latina, o Índice de Clima Econômico caiu 1,6 ponto entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre deste ano, de 80,6 para 79 pontos. No Brasil, o indicador recuou 2,8 pontos, de 63,4 para 60,6 pontos, e apresentou a menor pontuação entre os países pesquisados.
Um dos reflexos negativos após a ofensiva militar da Rússia no país vizinho é a alta do dólar. A moeda norte-americana chegou a atingir R$ 5 na quarta-feira (23), mas fechou a sexta (25) a R$ 5,15. Por enquanto, os efeitos no câmbio são relativamente pequenos porque o Brasil se beneficiou de uma queda de quase 10% do dólar no acumulado de 2022. O prolongamento da guerra na Ucrânia, porém, pode anular essa baixa.
O Governo Federal informou que o Brasil tem grandes reservas internacionais e baixa participação de estrangeiros na dívida pública, o que ajudaria a enfrentar os riscos de uma turbulência externa prolongada. Entretanto, o crescimento econômico pode ser prejudicado se o dólar continuar a subir e ainflação não ceder, o que obrigaria o Banco Central (BC) a elevar a taxa Selic (juros básicos da economia).
Na última edição do boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, os analistas de mercado elevaram a projeção anual de inflação oficial para 5,56% em 2022. Essa foi a sexta semana seguida de alta na estimativa. A previsão de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) foi mantida em apenas 0,3% neste ano.
Além do câmbio, outros dois canais pelos quais a guerra na Ucrânia deve afetar a economia brasileira, de acordo com a pesquisa divulgada pela FGV, são: combustível e alimentos. A Rússia é um dos maiores fornecedores de petróleo e gás natural do mundo e um dos principais impactos na economia do Brasil será ocasionado pela alta do preço internacional do petróleo, que superou no primeiro dia de invasão russa os US$ 100 - maior preço em mais de sete anos.
O barril do tipo Brent encerrou a semana em US$ 105, no maior nível desde 2014. Já o BTU, tipo de medida de energia, do gás natural pode chegar a US$ 30, segundo Rodrigo Costa, diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras. O Brasil usa o gás para abastecimento das termelétricas.
Em relação à gasolina, a recuperação da safra de cana-de-açúcar está reduzindo o preço do álcool anidro, o que também ajuda a segurar a pressão do barril de petróleo num primeiro momento. Desde novembro do ano passado, o litro do etanol anidro acumula queda de 24,6% em São Paulo, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).
Contudo, o preço do diesel, que já subiu 3,78% em janeiro, pode sofrer aumento com a guerra na Ucrânia porque esse tipo de combustível não tem a adição de etanol. O percentual de elevação do custo do diesel tem como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que funciona como prévia da inflação oficial.
A crise no mercado de petróleo também pressiona os alimentos. Isso porque a Rússia é o maior produtor mundial de fertilizantes, que também são afetados pelo petróleo mais caro. Atualmente, o Brasil compra 20% dos fertilizantes do mercado russo. O aumento do diesel também interfere indiretamente no preço da comida, ao ser repassado por meio de fretes mais caros.
Além disso, a Rússia é a primeira no ranking mundial de produção de trigo e a Ucrânia ocupa a quarta posição. Nesse caso, o Brasil não pode contar com outros mercados porque a seca na Argentina, tradicionalmente maior exportador do grão para os brasileiros, está comprometendo a safra local.
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A invasão militar da Rússia na Ucrânia matou cerca de 200 ucranianos e outros mil ficaram feridos até ontem (26), segundo informou o ministro da Saúde da Ucrânia Viktor Liashko. Entre os motivos que levaram a Rússia a atacar o país vizinho está o fato da Ucrânia ter manifestado interesse em fazer parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar internacional fundada em 1949 e que tem entre os países-membros:
Vladimir Putin, presidente russo, consideraria o ingresso da Ucrânia na Otan uma ameaça à segurança do país. A Ucrânia fazia parte da União Soviética, extinta em 1991, e era um pedaço importante da URSS por ter a segunda maior população. O interesse da Rússia seria preservar sua influência nessa região. O artigo 5º da Carta da Otan, que trata de defesa mútua, afirma que qualquer ataque a um dos membros será considerado um ataque a todos os membros.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte, Jens Stoltenberg, afirmou hoje (24) que a aliança está "trabalhando com a União Europeia, impondo sanções econômicas severas para demonstrar que será um preço muito alto para a Rússia".
*com informações da Agência Brasil
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