Reforma Administrativa favorece apadrinhamento político, diz representantes de servidores

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, afirmou que o texto da PEC da Reforma Administrativa deve ir para o plenário até o final de agosto

Redação   Publicado em 12/08/2021, às 11h48

Agência Brasil

Na última quarta-feira (11), os representantes de funcionários de empresas públicas criticaram diversos pontos da PEC 32/2020 (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma administrativa que está sendo analisada por uma comissão especial da Câmara dos Deputados. Segundo eles, o texto da PEC promove um desmonte da estrutura do Estado brasileiro, favorecendo “o apadrinhamento político” e privatizações. A audiência pública foi proposta pelos deputados Rogério Correia (PT-MG) e Tiago Mitraud (Novo-MG).

“É a entrega dos direitos sociais e da soberania nacional ao mercado. É a volta do clientelismo, do apadrinhamento político e do favorecimento”, afirma o representante da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Mario Alberto Dal Zot.

Dal Zot declarou ainda que a PEC poderá institucionalizar a chamada “rachadinha”, prática por meio da qual o empregado entrega parte do que recebe a quem o indicou. "Isso tem que ser levado em conta. O trabalhador, o funcionário público, vai servir muito mais ao político, ao patrão do que ao cidadão.”

Vice-presidente da Anabb (Associação dos Funcionários do Banco do Brasil), Cecília Garcez argumenta que a PEC pretende reduzir direitos, enfraquecer a atuação do Estado e facilitar privatizações. "Essa proposta esvazia os acordos coletivos e facilita demissões. Os servidores ficarão reféns de governos, podendo haver um aparelhamento do serviço público”. Garcez entende que a simples equiparação com a iniciativa privada não garante eficiência nem impede a corrupção.

Funcionária da Caixa Econômica Federal e representante do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, Maria Rita Serrano declarou à comissão especial que o governo usa uma premissa equivocada: o que é público é ruim e ineficiente, e o que é privado é bom e moderno. "Essa PEC traz uma série de distorções ao tratar o privado sempre como melhor. Por que só a Caixa atendeu 130 milhões de brasileiros durante a pandemia, mesmo com funcionários correndo riscos?”, indagou.

Posição do governo

Representando o Ministério da Economia, Maria da Penha da Cruz afirmou que a PEC não visa reduzir despesas e sim aproximar o serviço público da realidade brasileira. “O texto tem caráter moralizador, para corrigir distorções históricas. No mundo atual, não faz sentido esse tratamento diferenciado a empregados do serviço público”, disse Cruz. Ela reforçou que as mudanças previstas se aplicam apenas a novos funcionários.

Maria da Cruz detalhou pontos da proposta e defendeu, por exemplo, a proibição de alguns benefícios para empregados públicos, como férias superiores a 30 dias, progressões na carreira e adicionais relacionados ao tempo de serviço, aumentos com efeitos retroativos, redução de jornada sem redução de remuneração, adicionais por substituição, entre outros.

Ela destacou ainda que a previsão de contratação de pessoal com vínculo por prazo determinado, mediante processo seletivo simplificado, deve atender apenas a situações específicas (calamidade, emergência, necessidades temporárias e atividades sob demanda), e disse que a estabilidade não deve ser assegurada a empregados públicos nem por negociação coletiva ou individual nem por ato normativo. “Busca-se o tratamento equânime entre funcionários públicos e privados”.

Além do deputado Rogério Correia, que propôs a reunião, criticaram a reforma administrativa os deputados Paulo Ramos (PDT-RJ), Professor Israel Batista (PV-DF), Rui Falcão (PT-SP), Gervásio Maia (PSB-PB) e Zé Neto (PT-BA). Para Correia, a PEC não pretende garantir a eficiência do serviço público e sim promover o seu desmonte. "Se o governo está preocupado com distorções, deveria incluir na proposta membros do Parlamento, do Ministério Público, da Advocacia-Geral da União, magistrados e os militares. Aqui estão preocupados em cortar não regalias, mas direitos dos trabalhadores”, disse.

Gervásio Maia e Paulo Ramos defenderam que o texto da PEC seja explícito quanto à não aplicação das regras para atuais empregados e servidores públicos.

Celetistas

Representando a Confederação Nacional de Municípios (CNM) na reunião, Elena Garrido disse que muitos tribunais do País têm proferido decisões estendendo a estabilidade, legalmente garantida apenas a servidores públicos, a empregados de empresas públicas e de sociedades de economia mista.

"Nossa posição é pela manutenção de contratações pela CLT [Consolidação das Leis do Trabalho], mas sem qualquer regra de estabilidade, nem mesmo cultural, como ocorre atualmente, com possibilidade de demissão mediante baixo desempenho, desnecessidade e justa causa, sem a necessidade de processo administrativo”, disse.

A CNM também apoia a regra que prevê contratações temporárias como forma de evitar despesas permanentes para demandas eventuais dos municípios.

A Comissão da Reforma Administrativa foi instalada no dia 9 de junho e é presidida pelo deputado Fernando Monteiro (PP-PE). O relator da matéria é o deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA).

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), espera votar a proposta no Plenário da Casa até o final de agosto.

*trechos com reprodução da Agência Câmara de Notícias

Leia também

“Reforma tributária vai beneficiar capital produtivo e taxar o capital especulativo”, afirma Lira
Lira destaca que a carga tributária sobre a renda pode ser reduzida em até R$ 50 bilhões
Reforma Administrativa: Parlamentares defendem manutenção da estabilidade no serviço público
Guedes admite mudanças na reforma administrativa para ser aprovada
Reforma Administrativa: Juízes e promotores rejeitam alterações nas carreiras jurídicas