No artigo dessa semana, o nosso colunista Gabriel Granjeiro destaca sobre a importância de avançar de nível assim como é feito nos games de fase
“Viver é como andar de bicicleta: é preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio.” – Albert Einstein
Imagine um videogame baseado em fases. Cada uma delas corresponde a um novo nível, mais desafiador e com um “chefão” mais sagaz que o anterior. Em regra, as táticas que funcionam na primeira fase, bastante tranquila e sem grandes obstáculos, dificilmente darão certo na décima. Na vigésima, então, é provável que se tenha de fazer praticamente tudo diferente. Sem contar que, a essa altura, o gamer já precisará ter adquirido as armas adequadas e desenvolvido as competências certas para cumprir as novas missões.
Parece até um espelho da vida real, mas há uma diferença importante. Se nos videogames o jogador sabe minimamente o que esperar da fase seguinte e pode se preparar para ela, no mundo concreto as regras são bem mais duras. Raramente nós, os players, somos alertados quando alcançamos um novo nível em nossa jornada pessoal, muito menos temos alguma ingerência sobre o porvir.
É por isso que, na falta de instrumentos objetivos como os alertas característicos dos jogos eletrônicos, precisamos estar atentos aos sinais da vida. São eles que indicam – sempre com sutileza – que passamos de fase. É a nossa deixa para irmos em busca do equipamento e das armas certas para vencer o próximo “chefão”. Se os ignorarmos, não passamos de nível.
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No início da vida, nosso maior desafio é nos mantermos vivos. Nessa etapa, tudo que temos de fazer é nos alimentar e seguir os comandos e orientações paternos. Para ser sincero, nos primeiros anos “de jogo”, nossa vida depende muito mais da ação dos outros do que de nós mesmos. Mas eis que, com o passar do tempo, começamos a andar, a falar... descobrimos o mundo! Em seguida vem a coordenação motora fina, depois aprendemos a ler e escrever, e forma-se o pensamento crítico. Atingimos a puberdade, atravessamos a adolescência, nos tornamos pré-adultos, e então estamos aptos a compreender o nosso papel no mundo.
É nessa etapa da vida que surge a percepção de que novos níveis foram “destravados” em nossa jornada individual, níveis que exigirão armas mais complexas que as usadas até ali.
O problema é que para alguns essa percepção é menos forte que para outros. Em outras palavras, nem sempre é possível notar uma mudança de fase a fim de se preparar para o que virá a seguir. Quanto mais envolvida em um projeto importante, menos a pessoa consegue identificar em que nível de fato está em sua história.
Pode até identificar alguma evolução em si mesma, mas isso não a impede de cair na armadilha de recorrer às mesmas táticas, habilidades e técnicas de sempre. Assim, fazendo apenas mais do mesmo, ela corre o risco de estagnar no jogo. Afinal, o crescimento implica passar por desconforto de vez em quando.
Um time da Série A não pode fazer uso exclusivamente de habilidades que o fizeram vencer a Série B. Um concurseiro não pode se dar ao luxo de permanecer indefinidamente na faixa dos 60% de rendimento nos simulados; precisa desenvolver as competências que o habilitem a chegar aos 70%, depois aos 80%... Pode-se afirmar que, com o tempo, o caminho em direção ao “chefão” vai se tornando mais íngreme. A passagem de 0% a 50% ocorre muito mais rápido que a de 50% a 90%, apesar de o segundo salto somar menos pontos percentuais em números absolutos.
Para quem nunca praticou atividade física na vida, a evolução será muito superior à de alguém que está buscando o ajuste fino, como a perda daquele último 1% de gordura ou a redução em alguns segundos na corrida. Entende a lógica e o desafio?
Amigo leitor, olhe bem a sua volta e tente identificar os sinais. Será que você mudou de fase e não notou? Se sim, aceite a possibilidade, bem concreta, de o que você fez para chegar até aqui não ser suficiente para conduzi-lo ao próximo patamar. Avalie se as armas de que está munido podem ajudá-lo a chegar lá.
Ah, e aprenda a ser um ignorante inteligente. Como assim? Simples! Não dê atenção a armadilhas como os comentários e “conselhos” de pessoas que estão em fases anteriores e, no fundo, só querem puxar você para baixo.
Foque em vencer o “chefão”. Dê adeus a projetos que não fazem sentido, a ideias que pareciam boas, mas hoje se mostram ultrapassadas. Revisite a sua rotina e se certifique de que seus instrumentos de guerra bastam para a nova fase. Lembre-se: não há nada de errado em fazer ajustes. Insensatez é esperar resultado diferente fazendo exatamente o mesmo, ou seja, repetindo comportamentos e ações.
Sabia que, para chegar ao topo da cúpula da Basílica de São Pedro, no Vaticano, é preciso enfrentar uma subida de nada menos que 551 degraus? A escadaria passa por trechos apertadíssimos – proibitivos para os claustrofóbicos –, e a cada andar tudo se complica, a ponto de, no fim, ser quase humanamente impossível passar para o degrau seguinte.
A impressão é que queriam demonstrar como o caminho até o céu requer esforço, fôlego, suor, sacrifício. Alcançado o topo, porém, depara-se com uma vista incrível do centro histórico de Roma, uma das imagens mais bonitas e significativas do mundo.
O avançar no jogo da vida segue um pouco essa lógica: cada novo passo é mais dificultoso que o anterior, mas a recompensa no fim faz tudo valer muito a pena. Quem desiste no meio do caminho tem de lidar com a frustração de uma investida infrutífera. Já quem vai até o fim é presenteado com uma experiência transformadora.
Então, caro amigo, querida amiga, quer mudar de nível? Aja, ouse, tome atitudes coerentes com suas pretensões, sem medo do desconforto momentâneo que isso eventualmente cause. Do contrário, você ficará parado no mesmo lugar e não será recompensado com a vista maravilhosa que existe depois do último degrau da escada.
E não se esqueça: viaje com pouca carga, munido apenas dos itens que de fato abrirão caminho para a próxima fase. Dê espaço para o novo despindo-se do velho. Os seus sonhos vão agradecer.
*texto de Gabriel Granjeiro, diretor-presidente do Gran Cursos Online
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