O tema da pesquisa eleitoral no Brasil é bastante polêmico, em que parte do eleitorado acredita que os resultados são manipulados. Entenda como essas pesquisas são feitas
Cada vez mais acompanhamos nos principais jornais televisivos ou impressos a divulgação de dados de pesquisa eleitoral no Brasil. Afinal de contas, entramos no ano de 2022, que promete ser uma das eleições mais polarizadas dos últimos anos. Com isso, há políticos que questionam a efetividade das pesquisas e argumentam que elas têm o objetivo de influenciar os votos dos eleitores para os seus candidatos favoritos.
Diante disso, o JC Concursos explica como é feita a pesquisa eleitoral, a metodologia e a sua importância, tanto para os políticos quanto para os eleitores.
Em primeiro lugar, grupos de comunicação, instituições financeiras ou até mesmo partidos políticos entram em contato com as empresas de pesquisas para encomendar um estudo sobre o comportamento eleitoral das pessoas. Vale destacar que os institutos de pesquisas não trabalham apenas com estudos de intenção de voto, mas para compreender a opinião da população sobre diversos assuntos, que variam desde avaliação de visual de novos produtos até a percepção sobre planos de saúde.
Com a pesquisa encomendada, os pesquisadores definem uma amostra que seja representativa do grupo a ser pesquisado, utilizando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou de outra empresa pública relevante. Este movimento é necessário para escolher um número limitado de pessoas, em que as características delas sejam parecidas com a do grupo maior que se queira pesquisar, que os estatísticos chamam de universo.
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Em estatística, uma amostra é um conjunto de dados coletados e/ou selecionados de uma população que tem a função de representar, na mesma proporção, o universo estatístico.
Para selecionar a amostra corretamente, os analistas usam os dados do IBGE para distribuir as características da população, como escolaridade, idade, gênero, nível de renda, dentre outros. Os pesquisadores chamam essas características de variáveis.
Por exemplo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2019, feita pelo IBGE, diz que o Brasil tem 48,2% de homens e 51,8% de mulheres. Logo, a amostra deve retratar e distribuir na mesma proporção a quantidade de homens e mulheres em sua pesquisa. Essa lógica é realizada nas outras variáveis na pesquisa.
"A amostra deve ser uma reprodução do universo a ser representado, com as mesmas proporções de segmentos sócio-econômicos", afirma o diretor do Datafolha, Mauro Paulino. Em relação aos locais onde serão aplicados os questionário: “São sorteadas cidades de pequeno, médio e grande porte nas mesorregiões (recortes dentro de cada Estado) definidas pelo IBGE", explica Paulino. É que a proporção de moradores de capitais ou de cidades do interior também é considerada na formação da amostra.
Neste momento, aparecem algumas mudanças metodológicas, que variam de instituto para instituto, que é a interpretação das variáveis. "Quanto mais as variáveis escolhidas estiverem relacionadas com o objeto do levantamento, melhor será a amostra", diz a diretora do Ibope Márcia Cavallari. No caso do Ibope, as variáveis consideradas geralmente são as de gênero, faixa etária, escolaridade e ramo no qual a pessoa trabalha (ou se está desempregada).
Após calcular a amostra e definir as variáveis, o instituto de pesquisa inicia o processo de entrevistas.
Mais uma vez há mudanças metodológicas que variam de acordo com o instituto. No Ibope, o entrevistador realiza as entrevistas nos chamados "setores censitários”, que são definidos pelo IBGE durante o Censo. Cavallari relata que a principal vantagem deste método é saber exatamente onde cada entrevista é feita, pois o entrevistador se dirige para a casa das pessoas para efetuá-las.
"A partir daí, o entrevistador vai percorrer esse território (o do setor censitário) até preencher todas as entrevistas que estavam designadas para ele", diz Cavallari.
O Datafolha usa outra metodologia, que é o “pontos de fluxos”. Os pesquisadores são enviados para locais fixos em um ponto da cidade e entrevista as pessoas que passam neste ponto, de acordo com a característica social dessas pessoas e de forma aleatória.
De acordo com Paulino, o Datafolha mapeia mais de 60 mil pontos deste tipo, que são atualizados diariamente. "Todos os questionários são aplicados com o uso de tablets, que permitem a geolocalização online do entrevistador, gravação das entrevistas e checagem instantânea das respostas, que são enviadas para a central de dados no mesmo instante em que são colhidas", afirma o diretor do instituto em uma entrevista à BBC Brasil.
Depois da colheita dos dados, os pesquisadores os recebem e iniciam a tratá-lo estatisticamente.
As pesquisas eleitorais são feitas com base em estudos estatísticos que tem o objetivo de representar o universo da população que se quer estudar. Já as enquetes, de um site ou página na internet, não tem o controle amostral de quem vai responder às perguntas. Isso causa uma desproporcionalidade dos dados em relação ao universo amostral.
Por exemplo, uma página de direita ou esquerda tende a ter eleitores que se identificam com a sua visão de mundo. Assim, ao fazer uma enquete eleitoral neste universo, é claro que o seu candidato terá o número de intenção de votos disparado porque os dados amostrais foram completamente distorcidos.
Podemos destacar, por exemplo, a limitação que ocorre pelo próprio público, uma vez que parte da população não tem acesso à internet. Do mesmo modo, o perfil de quem responde espontaneamente às enquetes não é o perfil geral do eleitor, o que acaba enviesando os resultados", diz Danilo Cersosimo, do Ipsos, em outra entrevista para a BBC Brasil.
"Por isso mesmo existe uma diferenciação do que pode ser chamado de pesquisa, com métodos que devem ser seguidos, e enquetes, que podem ser feitas sem adoção de critérios científicos", finaliza o pesquisador.
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